A sexta-feira da Paixão chega, trazendo consigo um peso solene. Em alguns países, a data é um feriado nacional, marcado por silêncio e reflexão, mas nos Estados Unidos o dia segue como qualquer outro. Em Smallville, porém, Lex Luthor transforma a ocasião em um marco: a inauguração da LexCorp. Aproveitando o ponto facultativo no Kansas e o significado do evento, a prefeitura libera os servidores públicos para participar da cerimônia. As escolas do município também suspendem as aulas, e a cidade inteira parece pulsar com a expectativa do que está por vir.
Lex decide que Clark Kent será homenageado por salvar sua vida, uma escolha que não passa despercebida. Whitney, o namorado de Lana, torce o nariz para a decisão. Ele já não gosta do jeito que Lana parece olhar para Clark, e a ideia de ver o “novato” no centro das atenções o incomoda ainda mais. Determinado a reafirmar seu lugar, Whitney recorre a uma tradição local para humilhar o jovem.
_ Então, nós transformaremos o herói da cidade, que salvou a vida do milionário que pretende dar emprego a muitos das nossas famílias, muitos de nossos pais, no espantalho? _ Indaga um dos amigos de Whitney, hesitando enquanto questiona a ideia.
_ Galera, entendam, hoje é sexta-feira da Paixão. Segundo a tradição católica, é o dia em que Cristo, o maior herói da humanidade, foi crucificado. Por isso, em Smallville, nós sempre escolhemos um otário metido a herói e penduramos num madeiro no meio do milharal. _ Justifica Whitney, com um tom que mistura sarcasmo e convicção.
_ Isso eu sei. O que eu questiono é por que fazer isso com o garoto que vai estar em evidência hoje. O Sr. Luthor vai homenageá-lo daqui a pouco. _ Retruca o primeiro amigo, cruzando os braços.
_ Eu não sou católico. Nós vivemos nos Estados Unidos da América, um país protestante. Eu não quero participar desse ritual. _ Intervém outro estudante, franzindo a testa.
_ Deixem de ser manés. Não se trata de religião, é uma brincadeira. Vamos esperar o panaca metido a herói ser homenageado e depois a gente sacaneia o cara. _ Insiste Whitney, impaciente.
_ E quando perguntarem por que fazemos isso com ele? O que responderemos? _ Pergunta outro integrante do grupo, ainda inseguro.
_ A verdade! Ele é o herói, e na sexta-feira da Paixão, os heróis devem ser pendurados no madeiro. _ Reitera Whitney, com um sorriso torto.
A energia do garoto é contagiosa. Aos poucos, até os mais relutantes cedem, seduzidos pela promessa de uma boa dose de caos adolescente. O plano está traçado.
Enquanto isso, na cerimônia de inauguração da LexCorp, o clima é de celebração. Lex sobe ao palco, elegante e carismático, e toma o microfone com um sorriso calculado.
_ Eu quero chamar aqui um amigo. Um amigo novo, mas alguém que foi o primeiro a mostrar seu valor quando cheguei a esta cidade. Clark Kent, o menino do Rancho Kent, que salvou minha vida há quatro dias.
Tímido, vestindo sua habitual camiseta xadrez, Clark sobe ao palco. O aplauso da multidão ecoa por Smallville, um som que aquece o coração do jovem, mas também o deixa visivelmente desconfortável. Após a homenagem, Lex retoma o discurso, falando sobre seu compromisso de trazer desenvolvimento e empregos à cidade, suas palavras carregadas de promessas que contagiam os moradores.
No Rancho Kent, longe dos holofotes, Jonathan e Martha debatem sobre um importante assunto.
_ Eu sabia que eles cobrariam. Provavelmente eles sabem tudo! _ Diz Jonathan, com o cenho franzido enquanto mexe nervosamente nas mãos.
_ Não sabemos, Jonathan. Não podemos afirmar nada de forma precipitada. _ Adverte Martha, tentando manter a calma, mas a frase do marido a faz mergulhar em memórias de treze anos atrás.
13 anos antes
Uma chuva de meteoros, inesperada e devastadora, corta o céu de Smallville. Ninguém previu o fenômeno, e o caos se instala. Martha e Jonathan, em sua caminhonete, perdem o controle na estrada escorregadia e saem da pista. O impacto os deixa atordoados, mas ilesos. Ao descer do veículo, eles se deparam com uma cratera fumegante. No centro dela, uma nave espacial, pequena e reluzente, está aberta. Dentro, um bebê de cerca de dois anos os encara com olhos curiosos.
_ O que é isso? _ Pergunta Martha, com a voz trêmula de espanto.
_ Me parece um presente do céu. _ Responde Jonathan, quase em um sussurro, como se temesse quebrar o momento.
Sem hesitar, o casal decide levar o bebê. Eles o retiram da nave e o levam para o rancho, um ato que mudaria suas vidas para sempre.
Agora
_ Nós nunca soubemos o que aconteceu com a nave extraterrestre onde encontramos o Clark. Eu tenho quase certeza de que ela foi escondida por Lionel Luthor, e não pelo governo. _ Afirma Jonathan, com o tom carregado de suspeita.
_ É presunção sua, Jonathan. Não sabemos a verdade. _ Adverte Martha, tentando conter as especulações do marido.
_ Meu amor, você não percebe? Lionel Luthor apareceu do nada no nosso rancho dias depois. Ofereceu ajuda, nos auxiliou no processo de adoção. Você acha que ele faria isso de graça? _ Questiona Jonathan, com os olhos estreitados.
_ Jonathan, eu insisto, ele nunca nos cobrou nada. E até onde sabemos, o Clark salvou o Lex em algo ocasional. Não há ligação entre os acontecimentos. _ Retruca Martha, firme.
_ Eu aposto que ele está usando o filho dele para se aproximar do Clark. Não ficarei surpreso se descobrirmos que o Lex não tentou atropelar o Clark de propósito. _ Insiste Jonathan, com a voz subindo de tom.
— Jonathan, o Clark foi um presente do céu. Você se lembra que, apenas alguns dias depois, ele já começou a demonstrar seus poderes sobre-humanos? _ Relembra Martha, suavizando o tom.
_ Lembra quando ele levitava enquanto dormia no berço? _ Comenta Jonathan, com um leve sorriso escapando apesar da tensão.
_ E aquela vez, com apenas seis anos, quando ele salvou sua vida, segurando um trator enquanto você o consertava? _ Acrescenta Martha, os olhos brilhando com a memória.
_ Verdade. O macaco falhou, e eu estaria morto se o Clark não tivesse segurado aquele trator pesado. Um garoto de apenas seis anos fazendo coisas incríveis. _ Diz Jonathan, balançando a cabeça em descrença.
_ Então, Clark salvou Lex porque o ensinamos a ser assim. Lex está retribuindo o benefício, sendo generoso e homenageando nosso filho. Lionel nunca nos cobrou nada! Vamos apenas agradecer essas dádivas sem questionar o destino. _ Pede Martha, com a voz carregada de emoção.
Diante da insistência da esposa, Jonathan suspira, se aproxima e a beija na testa. Por ora, ele deixa as especulações de lado, mas a sombra da dúvida permanece em seu olhar.