Durante o pôr do sol de sábado, véspera de Páscoa católica, William recebe novamente diversos amigos e vizinhos para mais uma reunião de estudo das Escrituras Sagradas.
Madm dirige um estudo direcionado aos shabats anuais com destaque para a Festa dos Pães Asmos, quando são surpreendidos por uma senhora que adentra o local com seu filho em uma cadeira de rodas dizendo:
_ Desculpem-me, mas sabemos que vocês podem realizar milagres, a esposa do Capitão William foi curada por você.
_ Quem lhe disse isso? _ Pergunta Madm.
_ Todos estão comentando! A dona Ângela não está mais doente, seu esposo ganhou na loteria, eu não quero muito, apenas que meu filho seja curado.
Madm olha para o garoto de aproximadamente 10 anos de idade, magro com o desenho dos ossos visíveis, cobertos com quase nada de músculo ou carne, realizando movimentos involuntários e se compadece dele.
Então, caminha até o garoto e olha para ele perguntando:
_ Como é seu nome?
O garoto se movimenta involuntariamente e não responde.
_ Ele é mudo! _ Diz a senhora.
_ Dona Carmem, a senhora não pode acreditar em tudo que comentam por aí. É verdade que minha esposa foi curada e que eu fui abençoado com o prêmio da loteria, mas nosso foco não deve estar nas bençãos e sim na obediência que devemos prestar. _ Afirma William.
As palavras de William levam Madm a refletir: “Se essas pessoas souberem que eu a posso curar, certamente exigirão de mim que eu o faça sempre a todos que se achegarem até mim e isso os levará a frustrar-se quando eu não os puder atender.”
Enquanto Madm reflete, a senhora implora:
_ Eu posso obedecer a tudo que vocês ensinarem, mas eu quero a cura do meu filho.
_ Fique conosco, participe de nosso estudo, vamos orar juntos e em breve Deus certamente a abençoará! _ Sugere Madm.
A senhora aceita o convite e o estudo continua até o final da reunião com o grupo e repetidas vezes, insiste em pedir a cura para seu filho. Após a reunião de sábado à noite, a primeira noite da semana, depois despedirem-se dos convidados de William, o grupo se reúne, Amada percebe a tristeza de Madm e então indaga:
_ Você está assim por causa do garoto, não é?
_ Sim! Fomos enviados por Deus para fazer o bem, não podemos deixar de fazer o bem por medo. _ Diz ele, contrariado.
_ Ela vai voltar e na próxima, certamente você o curará. _ Diz Amada.
Madm se levanta ainda indignado e caminha pela sala, onde para observar os inúmeros livros de William. Let para ao seu lado e indaga:
_ Já leu algum? Estão todos em inglês!
Então, Madm confessa:
_ Sempre fui preguiçoso para praticar a leitura, você já leu algum?
_ Todos! _ Responde Let.
_ Qual deles você mais gosta? _ Pergunta Madm.
_ Gosto de Hamlet! _ Então, Let pega um dos livros da prateleira para mostrar para Madm, enquanto Amada se aproxima de seu esposo e brinca:
_ Este é aquele livro que tem a frase: “Ser ou não ser, eis a questão?”
_ Eu achava que essa frase era de uma peça de teatro e não de um livro. _ Confessa Madm.
_ Também! O livro comenta sobre a liberdade que as pessoas têm para agir e se expressar quando deixam de ser elas mesmas, algo bastante complexo. _ Comenta Let.
Então, Madm surpreende e grita:
_ É isso!
_ Caracas, você me assustou! _ Confessa Let.
_ Desculpe-me! _ Diz Madm, que em seguida explica: _Shakespeare é a solução! Ele defendia que uma pessoa, quando não é identificada, quando não é ela mesma, ela age de forma mais livre. _ Comenta Madm.
Com o grito de Madm, William e Ângela se aproximam da sala e o capitão licenciado de polícia pergunta:
_ O que você está querendo dizer?
_ Ser ou não ser! Ou melhor, ser e não ser! Assim poderemos ajudar as pessoas. _ Diz Madm.
_ Desculpa, não estou entendendo. _Confessa Let.
_ Há uma maneira de ajudarmos as pessoas, curando-as e até mesmo ressuscitando-as. Não deixando elas saberem quem realmente o faz. _ Afirma Madm, que em seguida, vira-se para Ângela e lhe faz um pedido: _Você pode criar uma roupa com capuz e máscara, poderemos criar um personagem, um ser que não é o meu ser e assim, fantasiado do personagem, poderemos ajudar as pessoas sem nos expormos. _ Conclui ele.
_ Ui! Agora eu entendi. _ Confessa Let.
_ Você nos auxilia com a roupa, Ângela? _ Pergunta Madm.
_ Só dizer como você a deseja. _ Diz ela.
Madm pede para Ângela fazer a roupa com a máscara dourada. Também pede para ela anexar a roupa, um capuz branco e colar na roupa um manto com um cordão azul trançado nas pontas conforme o mandamento das Escrituras. Ângela decide costurar a roupa imediatamente.
Ansioso para finalmente poder ajudar as pessoas, no meio da noite, Madm senta-se embaixo da árvore do quintal de William.
Não demora e Amada se senta ao lado dele, indagando:
_ Está feliz? _ Pergunta ela.
_ Ansioso! _ Confessa ele
_ Relaxa! Agora é só tomarmos cuidado para que o “Curador” não seja identificado como você. _ Comenta ela.
_ Verdade! Glória a Deus! _ Comemora ele.
_ Você é muito especial sabia? _ Diz Amada, que em seguida, olha para o céu e diz: _Sabe aquelas estrelas ali no céu, seu brilho é muito maior que o brilho de todas elas.
_ Não seria nada sem você! _ Responde Madm, que em seguida, vira-se e beija sua esposa.