“Meu nome é Silas, há 18 anos atrás eu participei de um ritual que me tornou algo diferente, uma coisa, um parasita!
Certa vez eu ouvi a pregação de um homem chamado Noach, adorador de um Deus que segundo ele, está irado com a maldade humana e vai destrui-la com um dilúvio.
Diante da aflição que a inexistência poderia me causar, eu compartilhei o fato com minha então noiva, Qetsyah, uma jovem apaixonada por magia, que se intitula bruxa, dominadora dos poderes da natureza, segundo o ensino das entidades que tem poder sobre os quatro elementos naturais predominantes à nossa ótica de observação.
Qetsyah, sempre foi fiel a Lilith, uma entidade lendária cuja origem eu desconheço.
Há quem diga que Lilith fora a primeira esposa de nosso primeiro pai, mas o rejeitou diante da ordem de supremacia masculina sobre suas fêmeas e fora condenada a viver fora do Paraiso, onde teria encontrado seu libertador, Helel Bem Shahar, chamado de Grande Querubim, que lhe tornou sua rainha.
Há, no entanto, quem diga que ela é um shedim que se revoltou no céu junto com um terço de todos os seres criados e assumiu forma feminina para se submeter ao líder da grande revolta e por ser sua fêmea obter vantagens em sua servidão.
Ocorre que Lilith sempre se apresentou a minha ex-noiva como a rainha do céu, senhora da humanidade, mãe dos deuses, rainha da magia e sendo assim, fora ela quem lhe ensinou tudo que Qetsyah sabe sobre magia.
Porém, neste período em que eu tive contato com o pregador que anuncia o dilúvio, minha ex-noiva encontrou o tal Grande Querubim, chamado por ela de senhor, deus da liberdade e outros tantos nomes, mas que segundo alguns, nada mais seria do que o primeiro a se revoltar contra o Deus Criador que está irado com o comportamento humano.
Este tal querubim afirmou a minha ex que exaltaria o nome dela se ela aceitasse se tornar o ícone de um ritual mágico que impede que a morte vença a humanidade e assim, nos livraria da maldição do Deus irado.
Eu sou o homem que aceitou ser a cobaia de tal experimento, um ritual que ocasionou a morte de uma moça jovem virgem e inocente, alguns animais, como um morcego e me tornou o que sou hoje, esta coisa, um vampiro.
Agora eu preciso de sangue para me rejuvenescer, me satisfazer e aperfeiçoar minha força e por isso, eu me isolei.
Já há 18 anos eu vivo em meio a floresta, onde eu me alimento e mato todos que solitariamente se aproximam de meu habitat com propósitos que não sejam justos ou benevolentes. Eu sou Silás, o habitante da floresta!”
Enquanto Silás reflete sobre sua condição atual, longe das cidades, isolado em uma floresta. Longe dalí, Qetsyah participa de um ritual, irritada por ter sido abandonada por seu grande amor:
_Ingrato! Vampiro inútil e ingrato! Eu o tornei poderoso e ele me abandonou. Me largou pelo rosto inocente de uma vadia que só não teve tempo de mostrar ao mundo quem era por falta de oportunidade. _Lamenta ela, indignada e solitária, apesar de viver em sua taberna, onde muitos homens a servem e muitos outros se divertem.
Uma de suas servas se aproxima dela e diz:
_ Está irritada novamente, minha senhora?
_ Sim, 18 anos se passaram e eu não consigo me esquecer daquele inútil ingrato.
_Senhora, a senhora não precisa dele. Olha o que a senhora construiu sozinha? Não precisou se casar, tem servos e servas que a servem e ainda proporciona alegria a grande parte da cidade. _ Pontua a serva.
_ Tudo que tenho foram bençãos de nossa senhora e de nosso senhor. Não fosse a rainha do céu e o deus da terra, certamente eu não teria nada. _ Lamenta ela.
_ Mas o que é melhor, senhora? Um homem ingrato ou todas as bençãos do céu e da terra? _ Indaga a jovem.
_Você está certa, eu devo esquecer aquele imbecil ingrato e viver com meu poder. _ Concorda Qetsyah.
_ Isso, quem sabe até arrumar um marido…. _ Qetsyah sinaliza com a mão e interrompe a moça:
_ Você já disse algo que presta neste dia, não tente continuar a ruminar, pois de sua boca só sairão tolices. Eu sou serva de Lilith, exaltada pelo Grande Querubim, nenhum homem é digno de mim. Eu sou uma sacerdotisa que se assenhora e não se submete.
A moça ri e diz:
_ Isso, senhora, este é o espírito!
Qetsyah, no entanto, fecha sua expressão e dispara:
_ Como ousa rir de mim? Está me achando engraçada? Suma daqui sua vadia! Vá estimular sua promiscuidade diante de meus clientes, pois isso pelo menos gera lucro para mim! _ Ordena Qetsyah.