Miguel morde o pescoço de Jéssika e começa a ter acesso a seus pensamentos e desejos, ele a induz a pensar e refletir sobre sua história. Miguel começa a viajar nas memórias da prostituta que escolheu para tomar o lugar de sua mãe.
Ele percebe que a mãe da moça morreu quando ela era criança. Alegando que seu único parente era um tio bêbado, o ex-patrão de sua mãe a levou para casa, para ter a tutela dela.
No entanto, ela sempre foi maltratada pela esposa do ex-chefe de sua mãe.
Rio de Janeiro–DF, quarta-feira, 5 janeiro de 1955, no calendário católico Gregoriano.
Em uma casa de classe média, duas jovens conversam e dão risadas em sua tradicional guerra de travesseiros com plumas rosas em uma cama de casal.
_ Para, Luh, você sabe que sempre perde. _ Diz uma das garotas.
_ Eu só perco, quando deixo você ganhar em algo, Jéh. _ Diz a outra garota, chamada carinhosamente de Luh. Em seguida, Luh se deita na perna de Jéh e, enquanto sua amiga acaricia seus cabelos, ela confessa: _ Você é a irmã que eu nunca tive, sabia.
_ Sabia, só que eu sou mais bonita. _ Brinca Jeh.
_ Bonita? Só porque sua pele é mais clara que a minha, apesar da cor morena de minha mãe, estamos no Brasil e aqui as morenas sempre fazem mais sucesso. _ Pontua Luh.
Acariciando o cabelo de sua amiga e rindo, Jéh sorri e confessa:
_ Eu não quero fazer mais sucesso que você, para mim, é suficiente que sejamos um sucesso, ambas, nós duas.
O tom sério e sincero de Jéh faz Luh levantar e, emocionada, dizer:
_ Sério isso, Jéssika? Que lindo isso que você disse.
_ Seríssimo, Luana Rocha!
Após as declarações, as duas se abraçam sorridentes e emocionadas, mas são interrompidas pelo som de uma mulher, limpando a garganta:
_ Ahn! Ahn!
_ Dona Neuza, a senhora chegou? _ Indaga Jéssika.
_ Oi, mãe. _ Diz Luana.
_ Que bagunça está este quarto? A louça está suja, a casa não foi limpa. Jéssika, eu não disse que quando voltasse do salão de beleza queria tudo limpo? _ Diz Neuza, demonstrando extrema irritação.
_ Sim, eu já ia fazer tudo, dona Neuza. _ Diz Jéssika.
_ Que menina, hein? É só eu virar as costas que não faz nada! Quando crescer será o quê? Uma prostituta? Entenda! Mulher que não sabe trabalhar no Brasil, só tem um destino, se prostituir. _ Diz a mulher, sem nenhum tipo de piedade em suas palavras.
_ Mãe, não fale assim. _ Diz Luana.
_ Sou sincera, filha, a mãe dela morreu e ela não tem pai. Seu pai foi muito simpático em trazer essa garota para a nossa casa, pois a mãe dela era nossa antiga serviçal e só tinha um irmão bêbado. Imagina o que ele faria com você, Jéssika.
Ao ouvir as ponderações de Neuza, Jéssika diz:
_ Eu sei, dona Neuza, sou muito grata por tudo que vocês fazem por mim, vocês são minha família.
_ Errado! Nós somos melhores que sua família, mas você tem que saber que você continua sendo apenas a filha da empregada. Nada, além disso.
_ Mãeeee! _ Grita Luana.
_ Que isso, garota, o convívio com a filha da serviçal está te fazendo se tornar mal-educada assim a ponto de gritar com sua mãe?
_ Desculpa, mãe, mas não precisa falar assim com ela. _ Pede Luana.
_ Que isso, Luh, eu realmente não fiz o que sua mãe pediu, mas já farei agora, dona Neuza, desculpe-me. _ Diz Jéssika, deixando o quarto e caminhando para seus afazeres.
_ Mãe, não precisa tratar a Jéssika tão mal. _ Insiste Luana, com voz branda.
_ Filha, entenda uma coisa: quando damos esmola, devemos dizer a quem estamos dando, pois senão, eles nunca reconhecerão! _ Enfatiza a mãe de Luana, que, em seguida, se assenta na cama e começa a mostrar suas unhas e cabelo, os quais foram tratados no salão de beleza.
Enquanto isso, entristecida, Jéssika se dirige para a cozinha, onde começa a lavar as louças sujas.