Nas memórias de Jéssika, Miguel percebe que a moça tem trauma de Dona Neuza, a esposa do ex-chefe de sua mãe, que a criou. Ela poderia ser lembrada como sua segunda mãe, mas para Jéssika, ela nunca passou de uma madrasta.
Rio de Janeiro–DF, terça-feira, 18 de janeiro de 1955.
Luana e sua mãe, Neuza, chegam do mercado animadas, enquanto Jéssika está à mesa, estudando.
Ao ver a jovem, Neuza já ironiza:
_ Viu que estávamos chegando e correu abrir um caderno para fingir que estava estudando, moça?
_ Não, dona Neuza, lavei toda a louça, passei pano em toda a casa e arrumei os quartos antes de vir estudar. _ Justifica a moça.
_ Será? Vou conferir! _ Enfatiza a mulher.
Enquanto isso, Jéssika, com suas unhas cortadas e incolores, vê as belas unhas de Luana e comenta:
_ Pintou de preto? Ficaram lindas!
_ Obrigada, faltou você, também dei um tratamento no meu cabelo, banho de brilho, o que achou? _ Pergunta Luana.
_ Ficou lindo, aliás, você é linda! _ Confessa Jéssika.
Após ouvir o elogio, Luana olha o que Jéssika está escrevendo e indaga:
_ O que você está estudando?
_ Estou revisando química, bons condutores e maus condutores. _ Responde Jéssika.
A afirmação da garota é sucedida pelo grito de Neuza:
_ Estudando química, coisa nenhuma. Como eu imaginava, deve ter percebido nossa chegada e correu pegar este caderno para disfarçar que não tirou o lixo do banheiro.
_ Desculpas, dona Neuza, eu esqueci realmente de tirar os papéis higiênicos. _ Tenta justificar, Jéssika.
_ Eu não sei mais o que faço com você, acho que erramos em te tratar o tempo todo como filha e você virou esse bicho preguiçoso que habita de graça em nossa casa. _ Dispara Neuza.
_ Mãe, por favor. _ Pede Luana.
_ Aff, eu cansei. _ Diz Neuza, que em seguida, se retira.
Luana olha para Jéssika e vê seus olhos lacrimejarem. Com empatia, a abraça, enquanto Jéssika confessa:
_ Não importa o quanto eu me esforce, eu vou ser sempre a filha da empregada que morreu no hospital e foi criada por sua família por ter um tio bêbado que seu pai julgou incapaz de me criar.
_ Você é nossa família, Jéh! _ Diz Luana.
_ Você é minha única família, amiga. _ Diz Jéssika.
_ Minha mãe só é exigente, mas, no fundo, ela gosta de você. _ Insiste, Luana.
Sem responder nada, Jéssika apenas abraça Luana e chora.