Após a Missa de domingo, o fazendeiro Thomaz Muller decide, logo na manhã de segunda-feira, viajar à cidade de Dourados, a 100km de Ponta Porã, visitar o comandante da PM, o Tenente Coronel Leopoldo e verificar os últimos incidentes envolvendo o agora licenciado Capitão William.
_ Grande Thomaz Muller, que honra recebê-lo em nosso batalhão. _ Diz o Tenente Coronel.
_ É sempre um prazer visitar o comandante do agrupamento que garante nossa segurança. _Diz Muller.
Os dois se cumprimentam com abraços, dispensando as tradicionais continências, comuns aos militares.
Em sua sala, após conversas iniciais no estilo “quebra gelo”. O Comandante do 3º Batalhão de Polícia Militar de Mato Grosso pergunta:
_ Então, a que devemos sua honrosa visita?
_ Na verdade, comandante, estou preocupado com nosso querido capitão. _ Diz Muller.
_ William? Fiquei sabendo que após ele ter se licenciado da polícia, ele ganhou na loteria. _ Diz o comandante.
_ Sim! Mas parece que o capitão abandonou toda sua vida, ele deixou a polícia, a Igreja, parece que está enriquecendo de forma rápida após ter se juntado a algumas pessoas muito suspeitas. _ Diz Muller
_ Os tais sabatistas judaizantes? Já ouvimos falar deles, mas todo o batalhão só tem boas notícias deles. _ Afirma o Tenente Coronel.
_ Então, comandante, receio que eles sejam farsantes que estejam enganando nosso capitão e outras pessoas. _ Adverte Muller.
_ Isso para mim é novidade. _ Comenta o comandante.
Após alguns minutos de conversa, Muller percebe que o comandante não sabe de nada sobre o grupo de mosaico-cristãos e decide retornar a Ponta Porã. Na despedida, o Tenente Coronel faz uma importante observação:
_ Pense um pouco Muller, você disse que eles compraram terrenos e descobriram diversos tesouros. Isso é estranho, porém se eles fossem criminosos, por que declarariam os tesouros? Pagariam impostos porquê? Lavagem de dinheiro?
_ Talvez faça sentido, comandante, de qualquer jeito, é importante observarmos e nos mantermos atentos a quem oferece muitas vantagens de forma tão rápida. Sou cristão desde que nasci e nunca vi Deus agir assim. _ Pontua Muller.
De volta a Ponta Porã, Muller vai a 1ª Delegacia de Polícia Civil e como é um sujeito bastante conhecido na região, é rapidamente atendido pelo delegado:
_ Então, nenhum Boletim de Ocorrência nesse sentido foi registrado, delegado? _ Pergunta o fazendeiro.
_ Nenhum! Creio que deva ter ocorrido algum erro, o senhor quer que registremos o B. O. agora como se fosse de dois meses atrás? Podemos fazer isso e intimar os meliantes. _ Diz o delegado.
_ Não precisa, se o Capitão William não realizou o registro da ocorrência, possivelmente seja porque ele julgou desnecessária. _ Afirma Muller.
_ Verdade! Falando no Capitão licenciado, como esse cara está sendo abençoado depois que seus amigos chegaram a sua casa, não acha? _ Diz o delegado.
_ Verdade, eles se conheceram onde mesmo? _ Pergunta Muller.
_Então, parece que são amigos dos tempos de Inglaterra, mas duvido que na Inglaterra eram tão bem sucedidos. Queria eu, tê-los recebido em minha casa. _ Comenta o delegado.
_ O senhor não acha suspeito esse povo ganhar na loteria, comprar terrenos, cavar buracos e encontrar tesouros? _ Questiona Muller.
_ Suspeito é! Mas eu queria ser suspeito de tal benção. Estou quase pensando em começar a frequentar as reuniões deste povo. Eles fazem festa direto, agora tem um jornal local e estão proporcionando emprego para as pessoas. Eu, se fosse o senhor, me tornaria amigo deles bem rápido, porque eu acho que se eles entrarem para a política, do jeito que estão indo, perigoso superar o senhor e frustrar seus planos. _ Diz o delegado.
As palavras do delegado arregalam os olhos de Muller, que entende que é hora de agir e procurar alguma forma de se aproximar do grupo e obter vantagens com eles, antes que estes, se tornem um problema para seus planos.
Ao sair da delegacia, Thomaz comenta com seu capataz chefe:
_ É Aparício, acho que fiz mal de não te ouvir e não mandar prender esse povo quando invadiram minhas terras!
_ O senhor é muito bondoso chefe, por isso foi misericordioso com eles, mas dor de barriga não dá só uma vez, e se eles cometeram a invasão aquela vez, vão cometer outros delitos em breve. _ Diz o capataz chefe.
_ Não te ouvi da primeira vez, meu amigo, mas agora o ouvirei. Porém só há uma maneira de ver onde eles erram e descobrir a parte de vidro em seu teto, se aproximando deles. _ Comenta Muller.
_ Ora, chefe, eu creio que não seja muito difícil. Eles recebem todo mundo nas reuniões religiosas deles. É só o senhor participar! _ Sugere o capataz.
_ Aparício, você vai ter um aumento. Você vai frequentar as reuniões deles e vai contar que quando eles apareceram na fazenda, eles brilhavam. Vou te dar as instruções… _ Sugere Muller, que segue relatando suas ordens.