Ainda na casa de Lucy, Mina lê o principal jornal de Londres, com o título: “Tragédia no Porto”. Ao ler a notícia, ela não consegue omitir sua expressão de tristeza e horror.
Vendo a amiga, Lucy pergunta:
_ Que cara é essa, Mina, parece que viu um demônio?
_ Um demônio não, mas uma ação do próprio dito cujo. Veja esta notícia. _ Diz ela, passando o jornal para Lucy, que sem a menor hipocrisia dispara:
_ Se você já leu, me conte o ocorrido, você sabe que eu sou preguiçosa.
As duas sorriem e Mina confessa:
_ É até maldade da minha parte conseguir sorrir após o que eu li.
_ E o que você leu? _ Insiste Lucy.
_ Um navio vindo da Transilvânia atracou contra Brighton. Na verdade não chegou ao porto, parou a cerca de 50 metros. Infelizmente, todos no navio estavam mortos, o capitão morreu segurando o leme. Provavelmente se esforçou para chegar ao porto de Brighton. _ Comenta ela.
_ Ai, que tristeza, você acha que Jonathan poderia estar no navio? _ Indaga Lucy.
_Credo amiga, Deus me livre, mas realmente estou preocupada.
Ouvindo as palavras de Mina, Lucy se espreguiça no sofá e diz:
_ Eu até te convidaria para um passeio em Brighton, mas infelizmente tenho mais uma maravilhosa sessão psiquiátrica com meu lindo doutor Seward.
_ Você não presta, Lucy! _ Ironiza, Mina, sorrindo.
_ Tenho que aproveitar antes de casar, afinal, após o casamento, pegará mal se continuar a me referir aos homens como faço agora. _ Pontua Lucy.
_Agora já pega mal, mas será que seu amigo estadunidense não toparia fazer um passeio até o litoral comigo? _ Indaga Mina.
_ Quincey? Não tenho dúvidas. _ Pontua Lucy.
Algumas horas depois, a carruagem de Quincey e Mina chega ao litoral de Brighton.
_ Fique tranquila, Mina, certamente Jonathan não estava neste barco, ele não retornaria sem avisar. _ Comenta Morris.
_ Eu não sei, faz mais de um mês que ele não me escreve. _ Lamenta Mina.
_ Ok, de qualquer maneira, vou verificar a lista de passageiros com algumas autoridades e você fique por aqui. _ Pede Morris.
Apesar do pedido do amigo, Mina não se controla e se aproxima do barco. O mal cheiro ainda toma conta do local, apesar do empenho dos trabalhadores para limpá-lo.
Sem que ela perceba, um belo e jovem homem se coloca ao seu lado e diz:
_ Foi uma tragédia, não é?!
Mina olha para o homem com olhos brilhantes, pele clara e um chapéu clássico e diz:
_ Com certeza, meu amigo foi verificar a lista de passageiros, meu noivo foi para a Transilvânia e não me dá notícias há mais de um mês.
_ Você acredita que ele poderia estar neste barco? _ Indaga o homem.
_ Não, mas há uma ínfima possibilidade e eu não poderia deixar de checar. _ Confessa Mina.
_ Veio aqui só por ele? _ Indaga o homem.
_ Na verdade, não. Meu sonho sempre foi ser jornalista. Eu amo desvendar mistérios. Tudo que é oculto e misterioso me fascina. _ Confessa ela.
_ Seu noivo era misterioso, então? _ Indaga o homem.
_Era? Como assim, era? Ele não morreu. _ Rebate Mina.
_ Desculpe-me, foi força de expressão. _ Pontua o homem.
Antes que o homem continue a se desculpar, Mina pontua:
_ Mas não, Jonathan é um livro aberto, sem segredos, ele é o oposto do que sempre me fascinou. Ele sempre me proporcionou segurança, acho que por isso eu serei sua esposa.
_ Uma mulher apaixonada fascina qualquer homem e alguém que age com sinceridade merece ser uma princesa. _ Elogia o homem.
_ Obrigada, mas só serei uma princesa se Jonathan se tornar um príncipe e meu noivo é um trabalhador humilde. _ Comenta Mina.
_ Entendo, ele costuma viajar sempre? _ Indaga o homem.
_ Não. É a sua primeira viagem para outro país. _ Confessa ela.
_ A senhorita já pensou como os homens reagem quando tem oportunidade de ver algo diferente? Seu noivo talvez parecesse o príncipe que a senhorita imagina ser porque estava ao seu lado, uma verdadeira princesa. Talvez a senhorita fosse o que de melhor lhe ocorreu. A senhorita já pensou que ele pode ser um oportunista, um lobo em pele de cordeiro apenas aproveitando suas chances quando aparecem?
Em meio as conjecturas do homem, Mina não se aguenta. Ela se vira descontrolada e lhe dá um tapa em seu rosto.
No entanto, após ver o que fez, ela se arrepende, mas se justifica:
_ Me desculpe! Não tomei atitude digna de uma moça, o senhor teceu diversos elogios e não merecia ser agredido, mas por favor, não fale mal do meu noivo, ele é o melhor homem que já conheci.
_ Perdão! Realmente eu mereci, prometo não voltar a repetir esta atitude! _Diz o homem, que em seguida propõe: _Como indenização, a senhorita aceitaria um café? Se a senhorita tem faro jornalístico, vai gostar do que tenho a lhe contar. _ Promete o homem.
_ Eu lhe agredi e o senhor continua sendo gentil?! _Indaga Mina, que em seguida raciocina um pouco e diz: _Ok, meu amigo está demorando e eu vou aceitar o café para provar que não sou uma insolente como pareci ao te agredir.
Algum tempo depois, comendo e bebendo em uma lanchonete a beira do porto, Mina se surpreende com o comportamento sutil e o conhecimento do homem, que narra tudo que supostamente descobriu sobre o ocorrido no navio.
_ Checando os diários dos náufragos, chegamos a estas conclusões. Parece que algo sobrenatural e poderoso estava naquele navio. Algo que precisava da energia humana para algo que não sabemos. Provavelmente todos morreram ao contemplar o… _ Antes do homem completar, Mina completa de forma irônica:
_ Demônio?
_ Talvez, mas eu chamaria de criatura infeliz. _ Pontua o homem.
_ Realmente, eu não acredito que demônios hajam desta maneira, provavelmente foi alguém problemas psicológicos graves que causou tudo isso. _ Diz Mina, lembrando-se de Renfield, que enlouqueceu ao retornar da Transilvânia.
As novas informações deixam o coração de Mina ainda mais aflito ao lembrar que Jonathan embarcou para aquelas terras.
Após alguns segundos de silêncio, ela levanta a cabeça e pela janela vê Quincey Morris a procurando.
Então, pede licença para o homem e sai ao encontro do amigo.
Ao encontra-lo, ele indaga:
_ Por onde você andou? Eu não disse para você esperar onde eu a deixei.
_ Perdão, eu encontrei um amigo que sabe tudo que ocorreu e estava me contando. _ Confessa ela.
_ Amigo? Não sabia que você conhecia pessoas em Brighton? _ Indaga Morris.
_Amigo é forma de se expressar, eu acabei de o conhecer, vamos lá, vou apresentá-lo.
Pela mão, Mina puxa Quincey Morris para dentro da cafeteria, mas ao chegar à mesa, não encontra o misterioso homem. Ao perguntar para a atendente, ela é informada que o homem pagou a conta e provavelmente foi embora.
_ Sujeito estranho, não acha? _ Indaga Morris.
_ Poxa, que chato! Ele foi supereducado e cortês e eu o abandonei quando te vi, deveria ter agido de forma mais civilizada, o pior é que nem seu nome, eu perguntei. _ Lamenta ela.
Quincey pega os braços de Mina e diz:
_ Não se preocupe, nossa viagem não foi em vão. A boa notícia é que Jonathan Harker não estava no barco.
_ Ufa! _Comemora Mina, que aflita, abraça Morris.
Ao lado da lâmpada que está acima da cabeça dos dois, um morcego se torna imperceptível por todos, mas aparentemente observa tudo que ocorre.