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Dream Life in Paris

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26. Atentado sobre o rio de Gotham 

Tarde do 1º dia da semana, popular domingo católico, residência de William, Ponta Porã, 31 de março de 1963. 

Após retornarem de Dourados, Madm reúne seus escolhidos e enviados na sala da residência de William, com a presença de Dutra, William e Ângela. A tarde está quente, o sol filtra-se pelas cortinas de linho, lançando sombras longas sobre o assoalho de madeira. O ar carrega o cheiro de terra úmida trazido por uma brisa leve que entra pela janela entreaberta.  

Emocionado, Madm abre o coração e começa a conversar com seus principais aliados, com as mãos trêmulas enquanto enxuga lágrimas que escorrem pelo rosto. 

Suas lágrimas, porém, não mudam a expressão de reprovação de Nokram, que mantém os braços cruzados e o olhar fixo, visivelmente irritado. 

— William, Ângela, Dutra, nós combinamos hoje pela manhã de não darmos detalhes e nem comentarmos sobre nossa origem com ninguém, mas o que ocorreu hoje à tarde me obriga a abrir o coração com vocês. — Diz Madm, com voz embargada. 

— Estou ansioso, quero saber tudo sobre o senhor. — Responde Dutra, com os olhos azuis brilhantes e um leve desvio que revela seu estrabismo, mas sem apagar a beleza e a esperança cheia de curiosidade e pureza em seu rosto. 

— Nós viemos de uma realidade onde tínhamos muitos anos e fomos perseguidos por tentarmos ser fiéis à lei de Deus. A perseguição nos purificou de tal maneira que esquecemos todos os muitos anos que vivemos antes e todos os erros que cometemos. Fomos protegidos e salvos, curados de nossas doenças que Deus permitiu que nos disciplinassem em nossa vida anterior… — Continua Madm, com a voz ganhando firmeza. 

Ele ainda está falando quando Healer tenta descontrair: 

— O Luk, não, ele continua gordo! 

Todos riem, aliviando a tensão por um instante. Madm tenta limpar os olhos, mas prossegue: 

— Na realidade em que vivíamos, Deus nos encheu com seu espírito, mas não com poder como agora. Nós orávamos, invocávamos seu nome, e muitas vezes éramos atendidos, mas nem sempre. Fomos poupados da morte, mas tivemos que fugir, tivemos que aprender a confiar no Criador e muitas vezes acordamos pela manhã sem saber se veríamos o pôr do sol. 

— Mas ele sempre nos permitiu isso! — Diz Menslike, refletindo, a voz carregada de gratidão. 

— Não para todos nós! — Insiste Madm. — Queimaram seu filho vivo, Menslike. 

As palavras de Madm mudam a expressão de todos. Lágrimas começam a escorrer dos olhos de alguns. A expressão de Dutra se transforma e Ângela começa a chorar baixinho, cobrindo o rosto com as mãos. 

— Por que lembrar disso agora? Sabemos que ele ressuscitou e ficou no céu com Yoka, Toto e Tony Neto? — Indaga Amada, tentando confortar. 

— Estou lembrando disso para lembrar que Deus, mesmo nos protegendo, mesmo nos dando o poder de seu espírito, não nos impediu de vivermos o bem e o mal. — Explica Madm, os olhos fixos em Amada. 

Luk entende a mensagem e diz: 

— Por isso, omitiremos a verdade sobre nós da maioria das pessoas. 

— Mais que isso, por isso nós não curaremos tudo e todos. Por isso, beneficiaremos sim os mais próximos, porque os amamos e não suportamos vê-los sofrer, mas eu quero lembrar que vivi 120 anos antes de vir para cá. Fui pobre, fui rico, fui presidente do Brasil e terminei minha vida como um procurado pela justiça por parecer com Israel, o povo que “não aceitava Jesus” e insistia em fazer sacrifícios de animais. — Revela Madm, com a voz tremendo mediante a lembrança. 

Nokram balança a cabeça negativamente e se justifica: 

— Lembrar de tudo isso é importante, é real, mas como você disse, Deus nos permitiu vivermos tal dor, mas agora ele nos dá condições de evitarmos isso para todos nessa realidade. Se Deus nos deu poder, temos que utilizá-lo. Quem dizia isso antigamente? — Indaga ele, citando uma frase de Madm em sua antiga realidade. 

— A gente usa, mas com sabedoria e inteligência. Fomos alertados de que nesta realidade existem seres poderosos que, na anterior, eram só fantasias. Imagina se estes seres souberem que podemos curar tudo e todos a nosso bel-prazer? Imagina como eles poderão usar tal poder. — Responde Madm, tentando acalmar o filho. 

Healer acrescenta: 

— Verdade, poderiam usar seu sangue para experiências. 

— Não sei, mas precisamos ter cautela e utilizarmos o poder e os dons que Deus nos der com sabedoria para que as pessoas entendam e relacionem a bênção de Deus a um desejo de se voltar para ele e para sua lei. — Conclui Madm. 

Nokram, ainda indignado, diz: 

— Deus te escolheu, ele sabe o que faz, mas fica o meu registro de que eu sou contra isso. Medo de inimigos, medo do que vão fazer, medo do mal, medo dos maus, é, para mim, não confiar no Criador, e para mim, isso é um erro. Em latim, isso é pecado! 

Menslike, até então em silêncio, diz: 

— Meu irmão, quem deve ser nossa referência? 

Nokram não responde, muito irritado, então Bebeto diz: 

— Yeshua. 

Então, Menslike indaga: 

— Yeshua poderia curar tudo e todos de forma imediata? 

Dutra se intromete e responde: 

— Não, porque as pessoas não tinham fé nele. 

— Fé no sentido de crença, correto? — Indaga Menslike. 

— E tem outro sentido para a fé? — Pergunta Dutra. 

— Fé, na verdade, originalmente é emunah, que significa fidelidade. Associar fé a crer em algo é um equívoco cristão. — Explica Healer. 

— Vocês acham que a incredulidade impediria Yeshua de usar seu poder, se ele quisesse? — Questiona Menslike. 

As palavras de Menslike resumem a decisão de todos, e Madm aproveita para concluir: 

— É isso! Por isso, Dutra, nós queremos te pedir para visitar seus amigos e, quando seus familiares chegarem de Dourados, pedir a eles para repetir a nossa história. Oficialmente, somos amigos de Let que vieram da Inglaterra, nós oramos e Deus às vezes ouve nossa oração, mas todo poder pertence a Deus. Somos todos irmãos, exceto Amada, que é minha esposa. 

MT-386, estrada para Amambai. 

Enquanto Madm e seus aliados debatem como agir diante de seus desafios, Let viaja para Amambai ao pôr do sol. Após quase duas horas de viagem na caminhonete de William, ela chega à humilde residência de Miguel, seu namorado vampiro, que visita sob o pretexto de ensiná-lo a falar inglês. O céu está tingido de laranja e púrpura, refletindo-se nas poças d’água da estrada de terra. 

Ao descer da caminhonete, Let percebe que Miguel está à espera, em frente ao humilde casebre, com sua expressão fechada. Ela engole a saliva e faz cara de preocupada: 

— Perdão, você não tem ideia do que ocorreu. — Diz ela. 

Miguel se aproxima dela e, percebendo a irritação de seu namorado, ela o beija após descer. Então, caminha alguns passos à frente, enquanto ele levanta seus cabelos e inclina sua cabeça a 90º para morder sua nuca e se alimentar dela. 

Enquanto se alimenta de Let, Miguel tem acesso a todos os pensamentos e memórias recentes dela, exceto seus sentimentos por Menslike e os residentes em sua casa, em virtude de um bloqueio hipnótico realizado por Esme Cullen. 

Após alguns segundos, o vampiro tira seus dentes do pescoço da moça e indaga: 

— Seu irmão? 

— Não! Foi uma escolha minha, eu realmente acredito no que eles ensinam e, como, se eu viesse, pareceria que estaria trabalhando, achei prudente não vir na Shabat. — Responde ela. 

Com o gosto do sangue em seu paladar, Miguel pega Let pelas mãos e a puxa para dentro de sua humilde residência. Let percebe que a expressão de reprovação dele sumiu de sua face e sorri. Ao entrarem, Miguel a coloca contra a parede e a enche de beijos, dizendo: 

— Eu estava irado e com saudades! Quase fui à casa de vocês hipnotizar todos e te sequestrar. 

— Não tente fazer isso, não sabemos que poderes o tal Madm tem, e também, eu quero que eles te conheçam da forma mais positiva. — Adverte, ela. 

Miguel sorri e a levanta em seus braços. Let se rende aos desejos de seu amado, crava suas pernas em sua cintura e deixa-se levar para seu quarto. Miguel a joga na cama e diz: 

— Você falhou ontem, e será castigada! 

— Eu sei, eu mereço. — Concorda ela, com seu olhar safado e apaixonado, direcionado a Miguel, que pula em cima dela na cama e indaga: 

— Como você quer ser castigada? 

— Quais são minhas opções? — Pergunta a jovem apaixonada. 

— Você pode ser castigada com muito prazer, com muito amor, ou com muita dor! — Esclarece Miguel. 

— E se eu escolher todas as opções? — Pergunta ela. 

— Talvez eu seja bondoso e atenda seu pedido. — Afirma Miguel, aproximando seu corpo por cima do corpo de Let, que sente arrepios ao sentir a fria temperatura de Miguel sobre si. 

— Então, eu acho que mereço ser punida com muita dor. — Confessa ela. 

— Será? — Questiona ele. 

— Mas gostaria de sentir muito prazer. — Continua Let. 

— Está querendo muito, não está? — Pergunta Miguel. 

— Sim! Estou querendo muito amor! — Responde ela. 

Miguel sorri e diz: 

— Você tem muita sorte de eu estar apaixonado, então você terá o que deseja e o que eu quero te dar agora… — Antes de ele terminar, ela o interrompe: 

— E quanto ao que eu mereço? 

— Vou anotar para executar essa parte do castigo em outro momento! — Decide ele. 

Let o beija apaixonadamente, levanta seus braços com os olhos fechados, enquanto ele tira sua roupa para a possuir. 

Igreja Evangélica Pentecostal do Pastor Paulo, Ponta Porã. 

Nesse ínterim, o Pastor Paulo celebra sua igreja cheia novamente e decide aproveitar a ocasião para orientar seus seguidores a não praticarem heresias. O ambiente está carregado de fervor, com o som de hinos ecoando pelas paredes de madeira. Faustão coordena a organização do culto, enquanto Guerra coordena as atividades musicais. Os membros cantam, gritam, falam em glossolalia, afirmam profetizar, desejando bênçãos na vida uns dos outros. Por fim, chega a hora do sermão, e o Pastor Paulo decide transmitir uma mensagem dura de advertência. 

Ele sobe ao púlpito, ajusta o microfone improvisado e ergue as mãos, pedindo silêncio. Sua voz ressoa com autoridade enquanto ele abre a Bíblia gasta em suas mãos. 

— Meus irmãos e irmãs em Cristo, hoje o Espírito Santo me guiou para falar sobre uma ameaça que se levanta entre nós! A Palavra de Deus nos alerta em Colossenses 2:16 e 17: “Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, pois tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo.” Vejam, o sábado, as restrições alimentares, essas coisas eram sombras, símbolos que apontavam para Jesus, o verdadeiro cumprimento da lei! Agora que Ele veio, não precisamos mais nos prender a essas regras! 

Ele faz uma pausa, varrendo a congregação com o olhar, e continua: 

— Em Atos 15, os apóstolos se reuniram em Jerusalém e decidiram que os gentios não precisavam seguir a lei mosaica. Eles disseram: ‘Não imporemos jugo que nem nossos pais nem nós pudemos suportar.’ Isso inclui o sábado e as leis de comida! Jesus nos libertou disso! E olhem as curas de Jesus no sábado — em Marcos 3, Ele curou o homem de mão ressecada, e os fariseus o acusaram por violar a lei de Moisés. Mas Jesus os enfrentou, dizendo que o sábado foi feito para o homem, não o homem para o sábado! Ele não se importava com o que comiam ou bebiam, pois declarou em Marcos 7:18-19 que ‘não é o que entra na boca que contamina o homem, mas o que sai do coração.’ 

O Pastor Paulo ergue a voz, apontando para o teto como se acusasse o céu: 

— Esses falsos mestres que andam por aí, dizendo que devemos guardar o sábado e rejeitar carne, estão deturpando a Palavra! Eles negam o sacrifício de Jesus, que purificou todas as coisas. E o apóstolo Paulo, em Gálatas 1:8, nos adverte: ‘Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema.’ Qualquer coisa que seja fora disso, meus irmãos, é amaldiçoada por Deus! 

Os membros da Igreja gritam “amém!”, “glória a Deus!” e “aleluias!”, levantando as mãos em êxtase. Percebendo o apoio, o Pastor Paulo conclui: 

— Irmãos, como vimos, qualquer pessoa que despreza Jesus, nosso Deus, e suas palavras, não herdará o reino do céu. Pelo contrário, vai arder no inferno, e não vai ser um dia, nem dois, vai ser para sempre, queimando. Portanto, mantenham-se fiéis a Jesus, pois às vezes é melhor sofrer agora e viver para sempre! 

— Amém! — Gritam alguns membros, em uníssono. 

Eushedim, assentado no banco da igreja, diz para sua esposa: 

— O Sr. Muller ainda não é evangélico, mas é um homem de Deus, pois ele disse algo parecido a semana toda, a respeito daqueles mágicos. 

Faustão, por sua vez, ouve o sermão e se sente confuso, pois sabe o que viu e viveu. Em sua mente, ele relembra diversos sermões onde o mesmo Pastor Paulo pregou incansavelmente que a cura é o dom do Espírito de Deus e que quem acha que ela não vem de Deus peca contra o Espírito Santo, um pecado imperdoável. 

Na memória de Faustão, ecoam as palavras do Pastor Paulo de um culto passado:  

“Meus irmãos, a cura é um sinal do Espírito Santo! Quem negar isso, quem atribuir curas divinas à obra de homens ou demônios, comete o pecado imperdoável contra o Espírito! Lembrem-se de Mateus 12:31: ‘Todo pecado e blasfêmia se perdoará aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada.’ Cuidado com o que dizem!”  

Faustão se lembra de aplausos e gritos de aprovação, mas agora, diante do sermão atual, sua confiança vacila. “Se a cura de Ângela veio de Deus, por que ele ignora o ensino deles? Será que eu estou errado em duvidar?”, pensa, inquieto. 

Amambai, Casebre de Miguel. 

O culto termina em Ponta Porã, enquanto em Amambai, Let abraça Miguel, nu em sua cama. A luz fraca de uma lamparina dança nas paredes da casa, criando sombras que tremulam como fantasmas. O silêncio da noite é quebrado apenas pelo som distante de grilos. 

— Então, acho que este é o momento de se aproximar de nossa família. Você utiliza seus dons e, durante sua viagem, consegue documentos para eles, e eles vão se tornar seus melhores amigos. — Sugere ela, traçando círculos no peito dele com os dedos. 

— E como você sabe que vai ser preciso? — Pergunta Miguel, erguendo uma sobrancelha. 

— Eu os analisei detalhadamente. Madm hoje reiterou que precisa ser um homem mais velho que seus “irmãos”, Menslike e Nokram, e dois anos mais velho que Luk e Healer. Eu peguei as datas católicas reais de seus nascimentos, e todos eles se dizem jornalistas, mas Luk e Healer tinham um restaurante, então precisamos de um certificado de gastronomia para eles. Quanto à Madm, como eles têm uma religião judaizante, acho que seria legal conseguir um certificado de que eles fizeram teologia em Jerusalém ou Tel Aviv. — Explica Let, os olhos brilhando com entusiasmo. 

Miguel indaga, receoso: 

— Isso não vai levantar muitas suspeitas sobre mim? 

— Talvez, mas isso também mostrará que você é influente e os fará querer você por perto. Nas entrelinhas, eles comentaram que também eram envolvidos com política, e Madm chegou a ser presidente do Brasil. — Enfatiza Let, com um sorriso malicioso. 

Miguel coça o queixo e insiste em indagar: 

— Você realmente acredita que eles são de outra realidade paralela? 

Let sorri e brinca: 

— Não! Eu acho que eles são experimentos de implante de memória falsa, mas eles realmente acreditam no que ensinam. Eu também acredito, mas não conto, porque eu acredito na existência de vampiros. 

Miguel então sorri e decide: 

— Eu farei tudo o que pediu. Hipnotizarei quem for necessário, vou conseguir os documentos originais, forjados, mas verdadeiros. Amanhã mesmo viajarei para onde for necessário, mas que fique claro que eu não creio neles e não duvido que sejam fruto de algum ritual de magia ou manipulação mental de algum vampiro, ou bruxa. 

Let não se importa, vibra e enche seu namorado de beijos. Em seguida, diz: 

— Você é quase perfeito. Para ser perfeito, só falta uma coisa. Você sabe o que é, não é mesmo? 

— O Livro da origem do Drácula, escrito por minha mãe, o qual conta a verdadeira origem do Drácula? — Responde Miguel. 

— Isso! — Responde Let. 

— Somente se você ler os dois ao mesmo tempo, um que conta a origem dele no século XV e XVI e o outro que conta sobre como ele manipulou minha mãe para ela se tornar sua escrava. — Propõe Miguel. 

Let sorri e promete: 

— Tão certo como o Deus do Madm vive! 

Miguel faz cara de deboche e coloca as duas mãos no rosto, lamentando. 

Valáquia, Século XV. 

No coração do século XV, a Valáquia, um principado encravado nas montanhas do sudeste da Europa, treme sob o peso de disputas incessantes no ano católico de 1442. O Império Otomano, liderado pelo jovem sultão Mehmed II, lança suas hordas sobre as terras cristãs, exigindo tributos e submissão. 

Vlad II, Dracul, voivoda da Valáquia e cavaleiro da sagrada Ordem do Dragão, resiste com a ferocidade de um leão, mas suas forças, exauridas por anos de conflitos, sucumbem ao avanço otomano. 

Em um ato cruel de diplomacia, os turcos sequestram seus três filhos: Mircea, o herdeiro de olhos firmes; Vlad, um menino de dez anos com um coração ardente de paixão pelo cristianismo católico; e Radu, o mais jovem, de beleza frágil e alma inquieta; e os levam como reféns para garantir a lealdade do pai. 

A caravana otomana serpenteia pelas estradas lamacentas do leste europeu, sob um céu cinzento que parece chorar pela Valáquia. O ar pesa com o fedor de suor, cavalos e medo. Amarrados com cordas ásperas que cortam seus pulsos, os irmãos seguem em silêncio, cercados por soldados otomanos cujas armaduras tilintam como um presságio de morte. 

Vlad sente o coração disparar enquanto seus olhos varrem o horizonte, buscando um vislumbre da terra natal que se desvanece. Em sua mente, as palavras do pai ecoam como um juramento sagrado: “Seja fiel à cruz, meu filho, e à Ordem do Dragão. Que a Virgem Maria te guarde.” Ele aperta contra o peito um pequeno crucifixo de madeira, escondido sob a túnica rasgada, um último elo com sua religião, que o sustenta. 

— Irmão, o que farão conosco? — Pergunta ele, com voz trêmula, mas carregada de uma curiosidade infantil, enquanto puxa a manga de Mircea, que marcha à sua frente. 

— Não sei, irmão. — Responde Mircea, com tom seco, mas os olhos cheios de uma angústia que ele tenta esconder. 

Como primogênito e futuro voivoda, Mircea carrega o peso de proteger os irmãos. Em sua mente, as lições do pai se misturam com o medo do desconhecido: “Um homem da Ordem do Dragão nunca se curva, mas um líder sabe quando esperar.” Ele quer acreditar que escaparão, mas a visão dos soldados otomanos, com seus turbantes escuros e cimitarras reluzentes, sufoca qualquer esperança. 

Constantinopla

A caravana chega a Constantinopla, a grandiosa capital do Império Otomano, onde minaretes perfuram o céu e o chamado à oração ressoa pelas ruas de pedra. Os irmãos são separados sem cerimônia, arrastados por corredores úmidos de uma fortaleza que exsuda o cheiro de mofo e desespero. Vlad grita, sua voz infantil corta o ar como uma lâmina: 

— Mircea! Radu! Meus irmãos! Mircea! Radu! 

Os soldados o ignoram, suas botas ecoam no chão de pedra enquanto o conduzem a uma cela isolada. O corredor é um túmulo vivo, com paredes cobertas de musgo e sombras que parecem sussurrar segredos de sofrimento. Sozinho, Vlad é jogado em uma cela estreita, onde a única luz vem de uma fresta alta, quase inalcançável. Ele sobe na cama de palha, o cheiro de podridão invadindo suas narinas, e estica o corpo magro para alcançar a janela. 

Do lado de fora, o pátio da fortaleza é uma cena de horror: prisioneiros, alguns cristãos como ele, são chicoteados sob o sol implacável. O som do couro corta a carne — chicli-plat! chicli-plat! — mistura-se aos gritos de dor e às ordens dos carrascos em uma língua estranha, mas Vlad reconhece uma frase, gritada com fervor: 

— Em nome de Alá! 

Seus olhos se enchem de lágrimas, não apenas pelo medo, mas pela empatia com aqueles estranhos que sofrem. Suas pernas cedem e ele desaba no chão frio, o corpo tremendo. Ao se arrastar para trás da cama, algo cai de seu bolso: uma pequena imagem da Virgem Maria, com seu olhar sereno, e o crucifixo de madeira, agora lascado. 

Ele os aperta contra o peito, como se fossem amuletos contra a escuridão que o engole. “Por que, meu Deus? Por que nos abandonas?” Pensa, enquanto se ajoelha e reza em voz alta, as palavras do Pai-Nosso ecoando na cela como um desafio à opressão. 

O som de sua oração atrai um soldado otomano, cuja silhueta imponente bloqueia a pouca luz da cela. Ele abre a porta com um rangido e arranca o crucifixo das mãos de Vlad, seus olhos faiscando de desprezo. 

— Idolatria! Idolatria! Garoto abominável! — Ruge o soldado, com voz carregada de um fanatismo que Vlad não compreende. 

Sem dar chance para protestos, o homem agarra o braço de Vlad e o arrasta para o pátio. O menino, com apenas dez anos, sente o coração disparar ao ver os outros prisioneiros, amarrados a postes de madeira, suas costas marcadas por vergões vermelhos. Vlad é amarrado a um desses postes, a corda corta sua pele. O carrasco, um homem de rosto coberto por uma barba espessa, levanta o chicote e proclama: 

— O Profeta diz: não praticarás idolatria, sob pena de morte, cristianismo abominável! 

A primeira chibatada corta o ar e atinge as costas de Vlad, arrancando um grito que ele tenta sufocar. Vinte golpes se seguem, cada um uma explosão de dor que parece rasgar sua alma. Sua túnica, agora em farrapos, está encharcada de sangue. Ele chora, não apenas pela dor física, mas pela humilhação e pela traição de tudo que conhece. Em seus dez anos de vida, protegido no castelo de seu pai, ele nunca imaginou tamanha crueldade. Arrastado de volta à cela, Vlad desaba no chão, o corpo ardendo, a mente nublada por perguntas sem resposta. “Por que, Virgem Maria? Por que permites isso?” 

Dias depois, Vlad desperta com o toque amigável de um homem desconhecido, um otomano de olhar severo, mas com uma calma que contrasta com a brutalidade dos soldados. Ele aplica um unguento nas feridas do menino, o cheiro acre do remédio mistura-se ao mofo da cela. 

— Como estás, filho? — Pergunta o homem, com voz quase paternal. 

— Dolorido. — Murmura Vlad, com voz fraca e os olhos fixos no vazio onde outrora estavam seu crucifixo e a imagem da Virgem. 

— Sabe que Deus revelou ao Profeta que a idolatria não deve ser praticada? — Indaga o homem, com uma mistura de curiosidade e firmeza. 

— Não sei o que é idolatria. — Responde Vlad, sincero, mas com um brilho de desafio nos olhos. Ele não entende as palavras do homem, mas sente que sua religião, o único refúgio que lhe resta, está sob ataque. 

— A culpa não é tua. — Diz o homem, inclinando-se para mais perto. — Te visitarei diariamente para te ensinar o Alcorão. Terá a chance de te livrar do inferno. Pois Deus abomina a idolatria, e essas imagens não têm poder. 

Vlad não responde. Em seu coração, as palavras do pai e as orações da infância lutam contra o medo e a dor. Ele aperta os punhos, prometendo a si mesmo que, não importa o que os otomanos façam, jamais renunciará à cruz que carrega na alma. Mas, na escuridão da cela, uma semente de dúvida germina: “E se Deus realmente me abandonar?” 

Residência de William, noite de 31 de março de 1963. 

Após chegar de Amambai, Let entra em seu quarto na residência de William. A lua cheia ilumina tenuemente o ambiente, reflete-se nas capas dos dois livros escritos por Mina, que ela ganhou de Miguel e agora repousam sobre a mesinha ao lado da cama. Ela os observa por um momento e diz para si mesma, em um sussurro: 

— Me perdoe, Miguel, mas eu vou ter que saber a origem do príncipe dos vampiros antes de saber como sua mãe se apaixonou por ele. 

Gotham City, madrugada de 1º de abril de 1963 no calendário católico, 7º dia do 1º mês no calendário bíblico. 

A madrugada de segunda-feira avança sob o frio e a névoa nas sombras úmidas de um armazém abandonado perto dos trilhos da Gotham Central Railway — a espinha dorsal do transporte da cidade, conectando os distritos industriais aos portos e aos bairros residenciais. Esse é o cenário onde três figuras encapuzadas se reúnem em segredo. 

— O senhor Dekker pagou bem e pagou adiantado, o serviço não pode dar errado! — Diz um dos homens, a voz rouca cortando o silêncio. 

— Nosso plano é simples, sabotar a ponte principal sobre o Rio Gotham, forçando a cidade a pagar por “proteção” contra futuros “acidentes” à Máfia de Dom Romano. Nada pode dar errado! — Diz outro. 

— Escutem bem. — Diz o primeiro homem, seus olhos frios refletem a luz fraca de uma lanterna a querosene. — A ponte é o ponto fraco. Colocaremos os explosivos nos suportes centrais. Dinamite suficiente para derrubar o trem de teste inteiro. A culpa cairá nos ombros da empresa contratada para realizar a obra da ponte. 

O segundo homem diz: 

— Fica tranquilo, chefe, vai dar bom, Rocco. 

— Vai, sim, Vito, mas e se alguém nos ver? — Indaga Rocco, o terceiro homem. 

— Se alguém os vir, vai ter que morrer, Rocco, ou vocês morrerão! — Adverte o homem chamado de chefe. 

— São 3h da manhã, não tem como ninguém nos ver, vamos embora antes que o sol nasça. — Diz Vito, otimista. 

Algum tempo depois, o trio se move com eficiência, plantando as cargas e conectando os fios detonadores a um temporizador. Em minutos, o trabalho está feito, e então eles desaparecem na névoa, deixando para trás o tique-taque invisível da destruição. 

Enquanto isso, Alan Scott chega à estação inicial da Gotham Central Railway, com cara de sono e dizendo: 

— Não vejo a hora de encerrar essa jornada dupla. 

Alan desce do carro, o ar frio corta sua jaqueta de couro. Ele acena para os dois colegas que o esperam: 

— Bom dia, Bill! — Diz ele, para o maquinista, um homem de bigode grisalho e mãos calejadas. Em seguida, ele cumprimenta seu jovem assistente: — Bom dia, Jimmy. 

— Mais uma madrugada de trabalho pelo desenvolvimento de Gotham, senhor. — Diz o jovem! 

— Vamos fiscalizar a ponte hoje, ok? — Diz Alan. 

— Sim, senhor! — Respondem os dois homens, a uma só voz. 

No caminho, eles conversam e Alan mostra seu sonho idealista sobre a importância da ponte em sua visão: 

— Essa ponte é uma maravilha da engenharia, mal posso esperar para ver o trem cruzando. — Diz ele, enquanto checa mapas e instrumentos. 

O trem caminha devagar sobre os trilhos, rangendo sob seu peso, enquanto a cidade dorme ao redor. 

A névoa do rio envolve a visão externa, e o cheiro de metal e óleo preenche o ar. 

O trem realiza a primeira parada. Alan observa algo estranho. Sem dizer nada, ele percebe um brilho sutil no chão, meio enterrado na terra úmida ao lado dos dormentes. Curioso, ele se abaixa e desenterra o objeto: uma lanterna antiga, feita de um metal verde iridescente, como se forjada de um meteorito esmeralda. 

A lanterna é pesada, com entalhes intrincados que parecem runas antigas. Alan observa uma lente de vidro esverdeado que emite um tipo de pulso fraco de luz, como se estivesse viva. 

— Que diabos é isso? — Murmura ele, virando-a em suas mãos. — Parece saída de uma lenda antiga… mas o que faz aqui, no meio do nada? — Indaga ele. 

A curiosidade o leva a não lançar a lanterna fora. 

— O que é isso? — Pergunta Bill. 

— Deve ser muito valioso! — Pontua Jimmy. 

— Pois é, parece uma lanterna antiga, nunca tinha visto uma assim. — Confessa Alan. — Talvez valha uma história no rádio amanhã. 

— O senhor vai sortear ela no programa, Sr. Scott? — Pergunta Jimmy. 

— Pode ser uma boa ideia. — Pontua Alan. 

Após o fato, o trio retorna ao trem, que reinicia seu percurso pelos trilhos. 

— Os trilhos estão vibrando muito, o senhor não acha? — Indaga Bill. 

— É provavelmente o vento, esta névoa está muito densa. — Sugere Alan. 

O trem prossegue seu caminho até que um estrondo ensurdecedor ecoa à medida que os dinamites explodem a ponte, atingindo o trem. 

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Markon Machado

Writer & Blogger

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