Valáquia, 1447.
A Valáquia, terra de montanhas escuras e florestas sussurrantes, treme sob o peso da invasão iminente. É 1447, e os exércitos otomanos, uma horda de aço e fervor religioso, atravessam as fronteiras da Transilvânia, suas bandeiras com o crescente lunar ondulando ameaçadoramente contra um céu carregado de nuvens cinzentas, prenunciando tormenta. O clangor das espadas choca-se com o trovejar dos cascos dos cavalos, enquanto os gritos guturais dos guerreiros ecoam pelas colinas, misturando-se ao cheiro acre de terra úmida e ao metálico de sangue fresco que já mancha o solo.
Ladislau II, recém-empossado voivoda sob a tutela húngara, revela-se um líder fraco, suas forças recuam diante do avanço implacável dos otomanos com desorganização. No entanto, no coração do pelotão inimigo, entre ex-prisioneiros valáquios endurecidos pelo exílio e pela dor, Vlad, filho de Vlad II Dracul, ergue-se como uma chama de vingança. Aos quinze anos, seu rosto jovem carrega marcas de determinação e olhos que ardem com uma ira que parece consumir as sombras ao redor.
Com um grito que corta o caos como uma lâmina afiada, ele brada: — Agora! Pela Valáquia!
O som de sua voz ressoa como o rugido de um leão, incendiando o espírito de seus aliados, um grupo de rebeldes valáquios que compartilham sua sede de liberdade e ódio pelos captores. Vlad empunha sua cimitarra, a lâmina reluzente capta raios de luz refletidos do sol. Ele lidera o ataque, avançando contra os otomanos com a fúria de um vendaval. A confusão explode como um trovão: espadas chocam-se em um clangor ensurdecedor, gritos de agonia rasgam o ar, e o chão transforma-se em um tapete vermelho de sangue e lama.
No calor da traição, os soldados otomanos, pegos desprevenidos pela revolta interna, voltam-se uns contra os outros com pânico, transformando a disciplina em carnificina. O sultão Mehmed II, montado em um garanhão negro cuja armadura reluz como obsidiana sob a luz pálida, percebe o colapso. Com um gesto brusco de sua mão enluvada, ele ordena o recuo, sua voz rouca corta o tumulto enquanto exige proteção dos soldados de elite que o cercam. A horda, fragmentada, recua em direção às colinas, deixando um rastro de caos.
Vlad, com o coração pulsando como um tambor de guerra, avança com uma fúria sagrada. Cada golpe de sua espada liberta uma vingança:
— Pelos cinco anos de cativeiro em Constantinopla, pelas chicotadas que marcaram minhas costas, pelas orações cristãs arrancadas de meus lábios, pelo Alcorão que tentaram impor à minha alma. — Grita, ele, girando a cimitarra, cujo metal canta no ar e brada com devoção: — Em nome de Nossa Senhora!
A lâmina encontra o peito de um soldado otomano, que tomba com um gemido rouco. Vlad gira novamente, seus olhos faíscam com uma mistura de raiva e paixão, e golpeia outro, gritando: — Isso é por São Pedro!
O corte abre a garganta do inimigo e o sangue jorra como uma oferenda profana. Ele avança mais, sua respiração é ofegante, e atinge um terceiro, sua voz se eleva como um hino:
— Pelo amor de nosso Senhor Jesus Cristo!
Ao seu lado, Radu, o irmão mais novo, permanece paralisado, a espada treme em suas mãos delicadas. Sua beleza é intocada, pele clara como mármore e olhos de cervo assustado que contrastam brutalmente com o cenário de destruição. Diferente de Vlad, que carregou as cicatrizes da resistência obstinada, Radu rendeu-se aos ensinamentos do Profeta, sua alma suaviza-se com os anos em Constantinopla. Ele segue Vlad como uma sombra hesitante, incapaz de erguer a arma, seu rosto reflete medo e confusão, enquanto observa o irmão transformar-se em um anjo vingador.
À frente da batalha, Mircea, o primogênito, fica imóvel, a armadura salpicada de sangue, os olhos fixos no colapso ao redor. Ele vê o sultão fugir, os soldados otomanos desmoronarem, e um vazio gélido cresce em seu peito.
Então, ele avista Vlad aproximando-se, com Radu colado a seus calcanhares, a ira ardente nos olhos do irmão assemelha-se a um fogo incontrolável.
Vlad, com a cimitarra ainda pingando sangue, aponta a lâmina para a garganta de Mircea. — Fuja com o sultão! Fuja como covarde! Assuma-se como o traidor que é, ou ordene que esses traidores fujam e lutem ao nosso lado. Porque se ficar e não lutar, sentirá a ira da minha espada! — Diz Vlad, com uma voz cortante como o aço.
Mircea, com o coração disparado, encara a lâmina a poucos centímetros de sua pele. Ele vê a fúria de Vlad, mas também o amor por sua terra, o mesmo fogo que um dia uniu os filhos do Dragão. Intimidado, mas movido por um lampejo de redenção, ele responde com a voz firme, embora trêmula: — Permita-me encerrar o derramamento de sangue e lutaremos juntos, meu irmão!
Vlad hesita, os olhos estreitados, avaliando a sinceridade nas palavras de Mircea. Lentamente, ele abaixa a espada, o peito ainda arfa de raiva. Mircea, aliviado, pega o gongo de bronze pendurado em seu cinto e o golpeia com força, o som metálico reverbera pelo campo de batalha como um chamado à ordem.
Os guerreiros, exaustos e desorientados, voltam-se para o herdeiro do voivodato. Mircea ergue a voz, com a autoridade de um príncipe: — Ouçam, guerreiros! Hoje é um dia triste. Irmãos morreram, mas diante da situação, o sultão, em vez de agir como um rei nobre, fugiu como covarde. Creio que estamos sozinhos aqui. Aqueles que sobreviveram e são fiéis ao sultão, retornem às terras otomanas. Aqueles que estão aqui para seguir minha orientação, curvem-se e permitam que meus irmãos retornem à sua terra. Aqueles que estão com Vlad, meu irmão, curvem-se a ele e mantenhamos a paz. Aqueles que têm alguém a chorar, levem seus corpos, mas cessemos o confronto imediatamente, pois somos todos irmãos!
O campo de batalha silencia, o vento carrega o lamento dos feridos. Os soldados otomanos, derrotados e confusos, recuam, carregando seus mortos em uma retirada desordenada. Os rebeldes valáquios, exaustos, mas com os olhos brilhando de esperança, baixam as armas, obedecendo à ordem de Mircea. Ele se volta para Vlad, cujo rosto permanece fechado, a desconfiança gravada em cada traço. Mircea, com a voz suavizada, mas firme, prossegue:
— Desde que nosso pai perdeu a batalha de cinco anos atrás, ele fez um acordo com os otomanos que nos manteve vivos. Este acordo foi descoberto pelos húngaros, que o atacaram e o mataram. Nosso primo Ladislau II se tornou o voivoda da Transilvânia e da Valáquia, sob a autoridade de João Corvinus, da Hungria. Vim para vingar a morte de nosso pai. Podemos liderar esse povo e recuperar o domínio das duas províncias. O que acha?
Vlad encara o irmão com a mente em turbilhão. Ele aperta a cimitarra, o peso da decisão pressiona seu peito, e responde com a voz grave: — Você é o herdeiro natural da Valáquia. Você é o voivoda legítimo!
Mircea estende a mão, os olhos buscam a confiança do irmão. Ele prossegue, com a voz carregada de esperança: — Lute comigo hoje. Aproveitemos este momento, juntos rendamos Ladislau e libertemos nossa nação. Não é este seu desejo?
Vlad hesita com o coração dividido entre a desconfiança e o amor pela Valáquia. “E se Mircea ainda servir ao sultão? Mas a Valáquia é minha casa, e por ela darei minha vida,” reflete.
Mesmo titubeando, ele aperta a mão de Mircea, o aperto é firme, mas os olhos vigilantes. Juntos, ambos convocam os sobreviventes, um punhado de rebeldes valáquios e soldados fiéis que escolheram ficar. Radu, ainda ao lado de Vlad, observa, em silêncio, o rosto pálido que reflete sua incerteza.
O céu escurece, as nuvens pesadas prometem chuva. O campo de batalha, coberto de corpos e armas quebradas, exibe o cheiro metálico de sangue. Vlad, com a cimitarra embainhada, mas a mão pronta para sacá-la, olha para as montanhas da Valáquia, sentinelas de sua infância. Ele murmura uma oração à Virgem Maria com o coração pulsando com uma certeza: a luta pela sua terra está apenas começando, e os filhos do Dragão, unidos ou divididos, moldarão seu destino.
Gotham, 1º de abril de 1963
No fundo do Rio Gotham, uma espécie de campo de força esférico esmeralda envolve Alan Scott como uma célula de proteção que o mantém seco, mesmo no fundo do mar. A água fria aperta seu peito, e os destroços do trem jazem ao seu redor, fragmentos de metal e madeira flutuam em um silêncio opressivo. Ele caminha pelo fundo do mar, seu corpo está protegido, mas sua alma está desfalecida, a mente enevoada pelo choque. A lanterna verde pulsa com uma luz etérea, paira à sua frente, como se guiada por uma vontade própria. De repente, uma voz ressoa em sua mente, clara e firme:
— Alan, Alan!
Alan olha à distância e vê os corpos de Bill e Jimmy e pergunta.
— Bill? Jimmy? Vocês estão vivos?
A voz da lanterna continua a falar com ele, porém aparentemente não vem de nenhum de seus companheiros.
— Alan, sou eu, a chama verde. Você me salvou antes, e agora eu te protejo. Mas precisa agir!
Com o coração acelerado, Alan olha para os corpos de seus amigos e tenta se dirigir até eles. A culpa o atravessa como uma lâmina. Ele caminha pelo fundo do mar, com esforço, o campo de força o mantém seco enquanto se move em direção aos corpos de seus amigos.
Não demora e os corpos começam a flutuar, o que o leva a tentar nadar até eles, o que se impossibilita, pois a bolha verde-esmeralda o protege.
— Eu preciso ir até eles! — Insiste,, Alan.
De forma surpreendente, a lanterna segue falando com ele.
— Flutue!
Como se levitassem em meio à água, Allan emerge na água, em direção aos corpos de Bill e Jimmy.
Allan os encontra já na superfície do rio, sendo carregados pela correnteza.
O corpo de Bill já está com o rosto pálido e os olhos fechados. Jimmy, a poucos metros de Bill, boia com os braços abertos, seu cabelo castanho se espalha pela correnteza.
Alan estende a mão, desesperado, tentando tocar Bill. Seus dedos encontram o campo de força, que impede o contato. Ele tenta novamente com Jimmy, o peito apertado pela angústia, mas os corpos permanecem intocáveis, frios e imóveis. Lágrimas se misturam à determinação em seu olhar. “Eu falhei com eles,” pensa, a culpa consumindo-o. “Se eu tivesse agido mais rápido…”
A voz da lanterna interrompe seus pensamentos, firme, mas compassiva: — A culpa não é sua, Alan! Você me salvou! Eu te salvei! Mas se ficar aqui, certamente morrerá!
Alan hesita, o peso da perda o ancorando ao fundo. No entanto, a urgência na voz da lanterna o força a agir. Com um último olhar para Bill e Jimmy, ele cerra os punhos e começa a subir. O campo de força o protege enquanto ele levita sobre o ar, até a superfície terrestre. A luz da lanterna o guia, pulsando à frente como um farol. A superfície se aproxima, o som abafado das sirenes tornando-se mais claro.
Finalmente ele chega, toca a lanterna e a bolha esférica que o protegeu, some imediatamente. Ofegante, o ar frio queima seus pulmões. A manhã fria de Gotham o recebe com suas tradicionais névoas matinais. Confuso, ele decide caminhar lentamente até sua casa, exausto, sem saber qual destino tomar.
Fazenda de Thomaz Muller
Nesse ínterim, na penumbra da sala rústica da fazenda de Thomaz Muller, Faustão, com o rosto vermelho de raiva, os olhos faiscando com uma mistura de indignação e frustração, agarra Duck pelo colarinho com mãos trêmulas, empurrando-o com força contra a parede de madeira áspera. Suas sobrancelhas se contraem e a voz sai rouca, carregada de fúria:
— Você é um imbecil! Um idiota! Como é capaz de fazer isso com uma garota pura como a Kilba?
Duck, surpreendido, arregala os olhos por um instante, o coração acelerado, mas logo recupera a compostura, levantando as mãos em um gesto conciliador. Seu rosto exibe uma expressão de desconforto misturado com um toque de culpa, enquanto tenta se defender.
Com a voz vacilante, mas firme, ele pede: — Hey, calma, eu sei que você gosta dela, eu jamais faria mal a ela!
Faustão aperta os punhos, os músculos do maxilar tensionados, o olhar ardendo com uma paixão protetora que ele mal consegue conter. Ele se inclina para frente, quase gritando, o tom imperioso: — Então, seja homem, case com ela!
Duck recua um passo, seu rosto pálido revela um conflito interno, os olhos baixando com um misto de vergonha e relutância. Ele balança a cabeça, sua voz sai baixa, quase um sussurro: — Eu não posso!
A ira de Faustão explode novamente, os olhos se estreitam com desprezo enquanto ele avança, pronto para agredir. Seu peito sobe e desce rapidamente, mas ele para, soltando Duck com um gesto brusco, sua mão ainda treme. Com um suspiro exasperado, ele murmura, o tom carregado de incredulidade e reprovação: — Por Jesus Cristo! Ela é linda! Você é solteiro, por que não a assume?
Duck esboça um sorriso irônico, os cantos da boca sobem de forma tensa, um brilho de sarcasmo pode ser percebido em seus olhos, o que só alimenta a fúria de Faustão, que cerra o punho com o braço pronto para desferir um golpe, mas Duck ergue as duas mãos em posição de defesa, seus olhos agora sérios, imploram compreensão. Ele fala com urgência, sua voz ganha firmeza:
— Pense um pouco? Você tem razão! Se o filho fosse meu, se ela gostasse de mim, eu casaria com ela, com maior alegria, mas pense um pouco, quem aqui é casado e não teria coragem de assumi-la?
Faustão franze a testa, a expressão de seu rosto endurece pela confusão, os olhos percorrem Duck como se tentasse decifrar um enigma. Ele repete, com voz hesitante:
— Está todo mundo dizendo que o filho é seu e você não a quis assumir. Você forçou o Sr. Muller a levá-la daqui para fazer trabalhos mais leves em sua casa.
Duck leva o indicador direito à testa, rindo baixo, um riso nervoso que esconde uma verdade maior. Seus olhos brilham com um misto de astúcia e resignação enquanto ele fala, a voz calma, mas carregada de insinuação. — Se fosse filho meu, eu assumiria, se fosse de um dos capatazes, jamais. Quem é o pai que não pode assumir, mas a leva para mais perto?
Faustão para, o corpo está rígido e perplexo, sua mente gira com a revelação implícita. Seus olhos se arregalam, o choque mistura-se a uma crescente compreensão. Ele balbucia, a voz falhando: — Você não está dizendo…
Duck interrompe, levantando a mão, o rosto agora sério, quase suplicante. Ele fala baixo, com um tom de advertência: — Para começar, eu sei que você gosta dela, eu te respeito como um irmão, mas eu não disse nada, não afirmei nada. Você é inteligente e presumiu por si. Agora, por favor, guarde segredo, pois você sabe como é o patrão. Se eu não obedecer, serei demitido!
Faustão recua, o punho ainda cerrado, mas agora relaxando lentamente. Seus ombros caem, seu rosto se contorce em uma expressão de angústia e indignação. Ele soca a mesa com força, o impacto ecoa pela sala e murmura com amargura, dispara com a voz quebrada: — Faça Deus e o Senhor Jesus, comigo, o que desejar, se eu continuar a trabalhar nesta fazenda após o dia de hoje!
O silêncio que se segue é pesado, os olhos de Faustão brilham com lágrimas contidas, enquanto Duck abaixa a cabeça, o peso do segredo pesando sobre seus ombros. A tensão entre eles, antes explosiva, agora se transforma em uma compreensão tácita, tingida de tristeza e revolta.
Gotham, manhã de segunda-feira, 1º de abril de 1963.
Na redação improvisada de um estúdio de notícias em Gotham, uma jornalista ajusta o microfone com mãos firmes, seu rosto sereno reflete a dor de quem cobre as difíceis histórias de Gotham. Seus olhos castanhos observam a câmera com atenção, o cabelo loiro impecavelmente arrumado reluz, enquanto ela segura um bloco de anotações. Sua voz clara e profissional preenche o ar com um tom neutro, relatando os fatos sem deixar transparecer emoção. — Bom dia, hoje, Gotham foi abalada por um trágico acidente na Ponte Gotham, que desabou durante um teste de trem experimental por volta da meia-noite. Três homens — Bill Henshaw, Jimmy Carter e Alan Scott — estavam a bordo do vagão de teste quando a estrutura cedeu, lançando-os ao Rio Gotham. Equipes de resgate recuperaram os corpos de Henshaw e Carter, mas até o momento, não há sinal de Alan Scott. Autoridades locais confirmam que as investigações estão em curso para determinar as causas do colapso, enquanto mergulhadores continuam a busca no rio. Famílias e amigos das vítimas estão sendo notificados e a cidade aguarda respostas sobre este incidente devastador.
Assistindo à TV, um homem de terno caro, o rosto parcialmente obscurecido por sombras, fala ao telefone com um sorriso frio nos lábios. Sua voz transborda confiança, seus olhos brilham com satisfação enquanto elogia seus cúmplices e a bela repórter:
— Estou vendo pela TV… nada melhor do que acordar cedo vendo esta gostosa da Vicki Vale trazendo boas notícias. — Ele ouve alguém pelo telefone e prossegue: — Excelente trabalho! A sabotagem na ponte foi impecável! O colapso foi exatamente como planejado. Vocês transformaram aquele trem em um caixão flutuante. Os corpos de Henshaw e Carter já foram encontrados, o que prova nossa eficiência. Alan Scott, porém, ainda não apareceu, está provavelmente morto, afogado no fundo do rio, preso entre ferragens do trem.
Mas isso só aumenta o mistério, o que nos dá uma margem de segurança. Parabéns, vocês merecem cada centavo. Continuem atentos; não podemos deixar rastros.
Enquanto isso, Vicki Vale segue com sua reportagem, compartilhando a triste notícia com os moradores de Gotham:
— O prefeito Hamilton Hill lamentou o fato e declarou luto por três dias em Gotham City.
A imagem da TV muda para o prefeito, o mesmo homem que esteve na reunião da máfia, anteriormente com Falcone e seus aliados, e também viu Bruce Wayne colocar sua arma no rosto do mafioso no restaurante, dias antes.
— Cidadãos de Gotham, lamento profundamente o trágico acidente ocorrido na Ponte Gotham hoje. A perda de vidas é uma ferida em nosso coração coletivo. Garanto a todos que as autoridades farão tudo que for necessário para esclarecer as circunstâncias deste incidente e punir os responsáveis. Nossas equipes de resgate e investigação estão trabalhando sem descanso, e pedimos paciência enquanto buscamos justiça para as vítimas e suas famílias. Juntos, superaremos esta adversidade.
A câmera foca no rosto de Hill por um momento, sua expressão séria contrastando com o caos implícito nas ruas da cidade ao fundo, antes de a tela escurecer para um intervalo comercial.
Enquanto isso, o homem que assiste pela TV, outro que também estava na reunião com Falcone, anteriormente, sorri e brinda sozinho, celebrando:
— É, Sr. Hamilton Hill, agora, não haverá mais desculpas para que a ponte gere lucro para nossa organização!
Aeroporto de Star City, naquela manhã.
Sob o sol inclemente de final de manhã no oeste estadunidense, Dina Drake envolve Ted Grant em um abraço apertado, os braços esguios envolvendo o corpo robusto dele com uma mistura de afeto e saudade. Seus olhos castanhos brilham com um toque de emoção contida, enquanto o cabelo preto cai em ondas sobre os ombros. Ted, com sua postura imponente e ombros largos, retribui o gesto com um aperto firme, o rosto marcado por uma expressão de orgulho e preocupação. O ronco distante de um avião que prepara-se para decolar no aeroporto.
Ted se afasta ligeiramente, erguendo o queixo com um sorriso confiante e diz com voz grave e cheia de energia, típica de sua personalidade decidida e otimista: — É, garotinha, eu acho que você deveria abandonar tudo aqui e se tornar uma mulher forte! Gotham não é uma cidade fácil, mas lá você vai ver coisas que vão tornar sua dor pequena. Acredite em mim, aquele lugar tem um jeito de forjar quem tem coragem!
Dina solta um suspiro suave, seus lábios curvam-se em um dócil, mas firme. Seus olhos refletem gratidão misturada com determinação enquanto ela responde com a voz calma:
— Eu agradeço o convite, mas ainda tenho que cuidar do meu pai. Obrigada pela visita, mas vou ficar bem.
Ela o abraça novamente, um gesto carregado de um apego silencioso, suas mãos apertam os ombros dele por um instante antes de se afastar. Ted assente, o olhar endurece com uma intensidade que revela sua convicção. Ele aponta para ela com um dedo, a voz subindo com entusiasmo:
— Se você quer combater o crime e o mal, nenhum lugar é melhor para se fazer isso do que Gotham!
Com essas palavras, ele vira-se, ajustando a mochila no ombro, e caminha com passos decididos em direção ao portão de embarque. Dina o observa partir, seus olhos seguem a figura robusta até que ele desapareça na escada do embarque, deixando um eco de suas palavras no ar quente do final da manhã.
Gotham City
Nas sombras úmidas de um beco escuro em Gotham, um grupo de capangas liderado por Jack, o subalterno de Carl Grissom, com seu sorriso torto e olhos inquietos, avança com passos determinados.
Ao lado de outros capangas, eles cercam um morador de rua, o mesmo que recebera as roupas de Bruce Wayne dias antes. O homem, com o rosto sujo e barba rala, ergue as mãos em pânico, exibindo olhos arregalados que refletem medo puro.
— Eu não fiz nada! — Grita o morador de rua, sua voz treme enquanto recua contra a parede úmida. — Alguém jogou essas roupas em mim! Eu achei dinheiro nos bolsos, peguei e larguei tudo! Juro, não sei de nada mais!
Jack ri baixo, um sorriso que ressoa cortante como uma lâmina, e acena para os capangas. Eles agarram o morador de rua com brutalidade, arrastando-o para um carro preto estacionado nas sombras. O homem chora, implorando clemência, mas as portas se fecham, engolindo seus gritos.
Algum tempo depois, em um galpão isolado nos arredores de Gotham, a cena ganha contornos sombrios. O local, aparentemente abandonado, marcado por paredes de metal corroído que rangem com o vento, o chão coberto de poeira e óleo, resseca o ar com um cheiro de sangue coagulado.
Uma única lâmpada pendurada no teto lança uma luz fraca, projetando sombras tortuosas sobre caixas empilhadas e ferramentas enferrujadas. O morador de rua, amarrado a uma cadeira quebrada, com seu rosto inchado de hematomas e o sangue escorrendo de um corte na testa. Seus olhos, antes cheios de medo, agora brilham com desespero.
Jack caminha em círculos ao redor dele, o som de seus sapatos ecoam no concreto, um sorriso inquietante curva seus lábios. Ele se abaixa, encarando o morador de rua de perto, sua voz sai num tom quase brincalhão, mas carregada de ameaça: — Vamos lá, amigo. Conta tudo direitinho. O que você fez com as roupas de Wayne? Quem te deu elas?
O homem funga, as lágrimas misturando-se ao sangue que escoa de seu nariz, enqunato balbucia:
— Eu juro, só recebi as roupas! Achei dinheiro nos bolsos, peguei e larguei tudo no beco. Inclusive os documentos Não sei de mais nada, pelo amor de Deus!
Jack endireita o corpo, seu sorriso desaparece por um instante. Ele acena para os capangas, que avançam com punhos cerrados. Eles golpeiam sua vítima com força, socos atingem o estômago e o rosto, o som de ossos estalam ecoando pelo galpão. O homem geme, seu corpo dobra-se sobre a cadeira, mas os bandidos não param, acertando chutes nas costelas com uma frieza calculada.
Após alguns minutos, Jack levanta a mão, interrompendo a agressão. Ele pega um telefone antigo sobre uma caixa, disca com dedos ágeis. A voz de Carl Grissom ressoa do outro lado, fria e autoritária, enquanto Jack relata os detalhes. Após ouvir as instruções, ele desliga e vira-se para os capangas, com sorriso frio e sinistro.
— O chefe disse que ele é mais útil morto! — Ordena ele, a voz calma, quase indiferente. — Acabem com ele.
Os capangas assentem, pegam uma corda e um saco. O morador de rua solta um último grito abafado antes que o saco envolva sua cabeça, o som de seus gemidos cessa lentamente enquanto a corda aperta. O galpão mergulha em silêncio, a lâmpada piscando como testemunha muda do crime.
Residência de William, Ponta Porã.
A hora do almoço se aproxima, e o aroma de ensopado de feijão e milho fresco enche a cozinha da residência de William. Ângela movimenta-se com destreza entre as panelas, seus ainda ralos cabelos louros que ficam fora da bandana que os prende, recaem lateralmente e platinam seu enorme sorriso, demonstrando a felicidade de quem voltou a ter esperança de uma vida longa e feliz. De repente, o som de passos apressados ecoa na entrada, e William surge sem a farda policial, a camisa amarrotada e um sorriso raro iluminado em seu rosto.
A surpresa atravessa os olhos de todos, interrompendo as conversas em sussurros.
Ângela larga as panelas com um movimento rápido, as mãos ainda úmidas de água, e corre para receber o esposo. Seus olhos se estreitam com preocupação, sua voz suave treme ligeiramente. — Amor, está tudo bem?
William a envolve em um abraço breve, seus olhos brilham com uma alegria genuína que contrasta com sua habitual seriedade. Ele beija a testa dela e responde com a voz cheia de entusiasmo:
— Sim! Pedi uma licença-prêmio na polícia, por dois anos. Quero passar mais tempo com minha esposa e aprender mais sobre as Escrituras. — Após um beijo carinhoso, ele se vira para Madm e Let, com um tom que ganha firmeza. — Acho que a chegada de vocês à nossa vida é uma oportunidade de uma nova vida, e após a proposta de Let, não quero prevaricar. Por outro lado, se Deus os enviou, tenho certeza de que ficar ao lado de vocês será certamente um caminho de bênçãos.
As palavras de William pairam no ar, deixando todos boquiabertos. Madm, com os olhos úmidos de emoção e um sorriso caloroso, avança e abraça William com força, e diz com voz grave que ecoa gratidão: — Que decisão surpreendente, meu amigo! Quero aproveitar este momento para falar com todos.
Healer, percebendo a importância do momento, ergue a voz em um grito agudo: — Nokram, Menslike, Bebeto, Luk, venham todos! Madm está chamando!
Os outros se apressam, correndo da sala e do quintal, seus rostos carregam preocupação e temor, temendo que algo ruim tenha ocorrido. Menslike, com a testa franzida, indaga: — Está tudo bem?
— Está! — Responde William, erguendo as mãos para acalmar o grupo. Ele antecipa Madm e, com voz firme, mas acolhedora, reitera: — Tirei uma licença-prêmio, pois quero desfrutar da minha esposa e aprender mais sobre as Escrituras com vocês. Além disso, passei no banco e retirei nosso prêmio da loteria. Nosso, não, de Madm, mas eu queria pedir que 5% pudesse ficar comigo. Será o dobro do que ganharia neste período como policial e me possibilitará dar qualidade de vida à Ângela. Se não for muito abuso, é claro.
Madm sorri, seus olhos encontram os de Amada, que o encara com uma mistura de alegria e expectativa, forçando-o a falar. Ele pigarreia com o rosto sereno, mas determinado:
— Então, é sobre isso que eu queria falar! — Todos voltam os olhos para ele, atentos, o que o obriga a prosseguir. — O prêmio é nosso, somos dez. Se todos toparem, este valor pode se dividir entre nós dez, cada um ficando com 10%. Claro que todos separam o dízimo, então 9%, e eu queria dizer outra coisa.
— O quê? Se for notícia ruim, deixa para outra hora, estarmos ricos já é suficiente! — Brinca, Bebeto, com o rosto iluminado e um sorriso travesso, aliviando a tensão.
Todos riem, e Madm retoma com tom mais leve: — Quero pedir desculpas por minhas decisões autocráticas e prometer que, a partir de agora, tomaremos nossas decisões baseadas em um conselho coletivo, composto por nós dez, se todos toparem.
Os presentes acenam positivamente, os rostos relaxam com a proposta. Nokram, no entanto, indaga:
— Isso inclui decisões já tomadas? Possibilidade de revisão de algumas delas?
Amada lança um olhar significativo para Madm, que assente lentamente, com uma expressão que ressoa como humildade, mas é resultado da pressão de sua sábia esposa.
— Espero que todos consolidem minhas decisões, mas sim, vamos votar todas.
— Poxa, quer dizer que vocês podem rejeitar a decisão de Miguel? — Indaga Let, com os olhos arregalados e temor.
— Quero que todos decidam juntos! — Pede Madm, erguendo as mãos em um gesto de união.
William intervém: — Eu já saí da polícia para não ter problemas com isso. Acho que a votação apenas consolidará o que já foi decidido.
Madm volta-se para Nokram, os olhos perscrutadores: — Quais decisões você quer que votemos?
Nokram percebe a falta de apoio majoritário e baixa a cabeça, então, ele diz em tom conciliador:
— Nenhuma, desde que, a partir de hoje, William permita que transformemos seu quintal em uma escola bíblica e que eu possa estudar as Escrituras com quem desejar aprender sobre elas.
William ouve o pedido com atenção e aprovação e, mais uma vez, antecipa Madm: — Acho que ninguém será contra, e eu mesmo, após o almoço, vou visitar todas as famílias que estiveram conosco desde a chegada de vocês, para este propósito.
Madm escuta o comentário e indaga, com o tom mais direto: — Se houver alguém que se coloque contra a proposta, colocamos em votação. — Ele pausa, olhando ao redor. — Há alguém?
Ninguém se pronuncia, e o silêncio enche o espaço. Amada bate palmas, o rosto radiante de alegria: — Unanimidade! Eu gosto disto!
A atmosfera se aquece com sorrisos e olhares de cumplicidade, o almoço se torna uma expressão de união renovada que enche de esperança os presentes.