A noite é um véu de escuridão rasgado por uma lua crescente, sua luz prateada dançando entre as copas das árvores de uma floresta densa, em algum lugar remoto de um mundo fraturado.
O ar, pesado com o cheiro de terra úmida e folhas apodrecidas, carrega o som de passos apressados, galhos quebrando e respirações ofegantes.
Um grupo de mosaico-cristãos, liderados por anciãos que carregam o peso de séculos, foge pela mata, com os corações batendo ao ritmo do medo e da fidelidade.
As vestes simples, rasgadas por espinhos, tremulam enquanto correm, e o brilho de tochas distantes, empunhadas por perseguidores, pisca como olhos famintos na escuridão.
É o sétimo mês, o dia de Yom Kippur, o Dia da Expiação, mas o momento é profanado pela caçada implacável dos extremistas político-religiosos que os acusam de heresia.
Estamos no crepúsculo de um mundo condenado, onde a tensão entre tradições atingiu seu ápice.
Madm, com 120 anos, lidera com uma firmeza que desmente sua idade. Seu rosto, sulcado por rugas profundas, brilha com suor, mas seus olhos castanhos ardem com uma convicção inabalável. Ele é a chama do mosaico-cristianismo, um movimento que uniu a Torá e a fidelidade em Yeshua HaMashiach, desafiando, ao mesmo tempo, as tradições romanizadas do cristianismo e a mística judaica que rejeitou Yeshua, inspirando milhões ao longo de décadas.
Ao seu lado, Amada, com 100 anos, tropeça, com os cabelos grisalhos escapando do lenço que cobre sua cabeça. Sua respiração é curta, mas ela aperta a mão de Madm, com o coração dividido entre o medo e a confiança no marido.
Healer, também centenário, com uma barba branca que roça o peito, e Toto, com 90 anos, de olhos suaves, mas cansados, correm próximos, enquanto Menslike, com 80 anos, e Nokram, um pouco mais jovem, fecham o grupo dos anciãos.
Liderando os mais jovens, Tony Neto, filho de Nokram e neto de Madm, com cerca de 30 anos, e sua esposa, uma mulher de olhar feroz, guiam o caminho, com os rostos tensos pela responsabilidade.
Um dos anciãos, Menslike, com a voz rouca e entrecortada, reclama enquanto atravessa um riacho raso, com a água gelada encharcando suas sandálias:
— Será que eles não nos darão paz? Será que nem neste dia separado, conseguiremos parar e celebrar ao nosso Deus?
Nokram, com o peito arfando, para por um instante, com as mãos apoiadas nos joelhos. Ele ergue o rosto, com os olhos fixos na lua, e responde, com a voz firme, apesar da exaustão:
— Faz três anos e meio que o sacrifício cessou em Israel! Hoje é o dia da Expiação! Certamente, hoje este mal cessará!
Ele se vira para Amada, que se apoia em Madm, com o rosto contorcido de dor e pergunta, com a preocupação suavizando sua expressão:
— Como você está, minha mãe?
Amada, com a voz trêmula, confessa, com os olhos marejados:
— Estou bem, mas virei meu pé.
Madm, com o braço firme ao redor dela, aperta sua mão e decide, com a voz calma, mas carregada de autoridade:
— Vão à frente, Amada e eu, vamos mais devagar.
Tony, o jovem descendente, com o cabelo preto desgrenhado e a respiração acelerada, aproxima-se, com o pânico brilhando nos olhos. Ele adverte, com a voz cheia de urgência:
— Vovô, não sei como você consegue ter tanta firmeza, mas se vocês ficarem, serão capturados.
Madm sorri, com as rugas aprofundando-se em seu rosto. Ele ergue os olhos para o céu, como se pudesse ver além das estrelas, e responde, com uma fidelidade que ressoa como um trovão:
— Não tenha tanta certeza disto, há um Deus no céu que cuida de todos nós, ele tem cuidado de nós até este dia e não nos faltará mais. Além disso, não podemos segurar todos. Se capturarem só nós dois, é melhor do que todos nós sermos capturados.
Amada, com o corpo tremendo, aperta-se contra ele, com as lágrimas escorrendo pelo rosto enrugado. Ela lamenta, com a voz quebrada:
— Eu não quero ser capturada.
O som de gritos e galhos quebrando corta o ar, cada vez mais próximo. Um grupo de perseguidores, com tochas erguidas e armas improvisadas — paus, facões, algumas espingardas — surge entre as árvores, com os rostos distorcidos por ódio. Eles gritam, com as vozes carregadas de veneno:
— Morte aos fanáticos! Morte aos judaizantes que ignoram nosso Cristo!
Madm, com o coração apertado, mas a mente clara, faz um pedido, com a voz subindo acima do caos:
— Não temos tempo! Fujam!
Luk, com 100 anos, de ombros largos e olhos formosos, dá um passo à frente, com a mão erguida em solidariedade. Ele declara, com a voz firme:
— Estamos juntos, meu irmão, não deixaremos ninguém para trás.
Madm balança a cabeça, com a frustração misturando-se à gratidão. Ele insiste, com o tom carregado de urgência:
— Obrigado Luk, mas é melhor vocês irem!
Toto, com o rosto marcado por décadas de lutas, junta-se a eles, com os olhos brilhando com determinação. Ele diz, com a voz grave:
— Não! Eu também não sairei daqui!
Menslike, abraçando Healer, suspira, com um sorriso amargo curvando os lábios. Ele lamenta, com a voz tingida de ironia:
— Pronto, todos os anciãos decidiram ser capturados! Então eu também fico, tio Healer.
Madm, com os olhos fixos nos amigos, tenta uma última vez, com a voz agora suplicante:
— Toto, Luk, Healer, eu preciso ficar por Amada, vocês não! Por favor, partam. Sigam com Nokram, ele é um ancião mais jovem, ele não vai atrasar vocês.
A esposa de Tony, o jovem descendente, com os cabelos presos em um coque apertado, abraça o marido, com os olhos brilhando de admiração. Ela sussurra, com a voz cheia de emoção:
— Seus antepassados são um exemplo não só para nós, eles foram um exemplo para o mundo, eles possuem uma idade avançada, mas são saudáveis e corajosos.
O jovem, com o peito inflado de alegria, mas os olhos marejados, olha para os anciãos e declara, com a voz ecoando na mata:
— Meu avô, Madm, meus tios-avôs Healer e Luk, meu primo de geração anterior Toto, meus tios, meu pai, vocês são os anciãos mais sábios e valentes que eu já conheci. Eu não os abandonarei.
Ele se vira para o grupo e grita, com a voz desafiadora:
— Vocês são nossos líderes? Então, nós não os abandonaremos!
Madm, com Amada ainda em seus braços, ergue uma sobrancelha, com a repreensão suavizada pelo amor. Ele corrige, com a voz firme, mas suave:
— Não diga besteira, todos vocês são fiéis a Yeshua, por tanto, sigam. Elohim nos protegerá e os protegerá também. Se todos ficarem, todos serão capturados!
Madm ainda está falando quando os perseguidores emergem das sombras, com as tochas lançando fagulhas no ar. Eles formam um semicírculo, com os rostos contorcidos por ódio, e gritam, com as vozes carregadas de veneno:
— Agora, vocês serão presos e julgados!
— Vocês trouxeram maldição a toda a terra! Ignoraram nosso Cristo, a graça e liberdade que nos foi dada, afrontando nosso deus!
— Vocês são fanáticos judaizantes, rejeitam nosso Jesus!
— Mas agora, sua rebelião acabou! O mal cessará na terra e vocês rebeldes pagarão por vossas heresias!
Amada, com o corpo tremendo, repete, com a voz quase inaudível:
— Eu não quero ser presa!
Madm fecha os olhos, com o coração apertado, mas a alma ancorada na fidelidade ao seu Deus. Toto, Luk e Healer juntam-se a ele, com os rostos serenos, apesar do medo. Os quatro anciãos, com mais de um século de vida, abraçam-se, com os corpos frágeis, mas as almas inquebrantáveis. O grupo permanece imóvel, com os jovens formando um círculo ao redor, prontos para enfrentar o destino.
De repente, uma luz irrompe no céu, com um brilho ofuscante que corta a escuridão como uma lâmina celestial. O jovem Tony, com os olhos arregalados, aponta para o leste e grita, com a voz cheia de espanto:
— Olhem aquela luz brilhando a leste!
Madm, com os olhos entreabertos, sussurra, com a voz tremendo de reverência:
— É o dia da Expiação! É meia-noite em Yerushalayim! Certamente ele vem e todo olho o verá!
Luk, com as mãos erguidas, proclama, com a voz ecoando na mata:
— É a volta daquele que ressuscitou!
Healer sorri, com as rugas suavizando-se em seu rosto, e Toto, com a voz cheia de esperança, pergunta:
— Está acontecendo o que estou pensando?
Nokram, com os olhos brilhando, responde, com a certeza de quem esperou uma vida inteira:
— O Mashiach está vindo para nos salvar!
Amada, com as lágrimas agora de alegria, murmura, com a voz embargada:
— Eu acho que consegui ser fiel até o fim!
Madm beija seu rosto, com os olhos marejados, e comenta, com a voz cheia de amor:
— Você me ajudou a ser fiel até o fim, meu amor.
A terra começa a tremer, com o chão rachando sob seus pés. As árvores balançam e o ar vibra com um som grave, como um trovão que vem do céu. Um dos perseguidores, com a tocha tremendo na mão, grita, com o pânico deformando sua voz:
— Satanistas! Seres do demônio! Como podem ter poder assim?
Outro, com uma faca erguida, avança, com a fúria nos olhos:
— Não vamos mais perder tempo! Vamos prender esses fanáticos!
Mas antes que possam tocar o grupo, a luz do leste explode, com uma intensidade que ilumina a floresta como se fosse dia. Um som estrondoso de shofar ressoa, com suas notas reverberando nos ossos de todos os presentes. A terra treme mais forte, com rachaduras engolindo o solo, e os mares, distantes, rugem, invadindo as costas. Healer, com os braços abertos, proclama, com a voz cheia de glória:
— É ele! O Mashiach está retornando!
Luk, com os pés começando a deixar o chão, completa, com a voz extasiada:
— Sim! Nosso senhor veio nos salvar!
A tristeza que pesava nos rostos do grupo dissolve-se, com sorrisos iluminando seus semblantes. Eles começam a levitar, com os corpos subindo como folhas carregadas por um vento divino. Os perseguidores, em pânico, gritam, com as tochas caindo no chão. As crateras que se abrem e engolem seus corpos, com o solo se fechando sobre eles como uma boca faminta. Amada, com os pés flutuando, olha para Madm, com o rosto brilhando como se fosse jovem novamente, e comemora, com a voz cheia de alívio:
— Estamos salvos! Já não sinto mais dor em meus pés!
Madm, com os olhos fixos nela, percebe sua pele reluzindo, com uma luz que emana de todos no grupo. Ele sorri, com o coração transbordando de gratidão, e murmura: “O Eterno cumpriu sua promessa.”
Toto, com os olhos arregalados, aponta para uma figura à distância, com a voz cheia de emoção:
— É a vovó ali!
Madm segue seu olhar e ri, com a voz vibrando de alegria.
— Sim, e ao lado dela… está vendo? Sabe quem é aquele garotinho, Toto?
Toto, com a confusão dando lugar à esperança, responde:
— Não, é uma criança.
Luk, com um sorriso largo, exclama:
— É o Bebeto!
Madm, com os olhos brilhando, confirma, olhando para Toto:
— Sim! Nosso sobrinho Bebeto, seu irmão, morto ainda quando criança!
Toto, com as lágrimas escorrendo, ri, com a voz cheia de espanto:
— Meu irmão! Que máximo!
A atmosfera terrestre transforma-se em um palco celestial, com milhares de corpos brilhantes subindo de todos os cantos do mundo. Rostos há muito separados, encontram-se, com abraços e risos ecoando no ar. No solo, o caos reina, com gritos de desespero, cidades desmoronando e escuridão engolindo a terra. Mas acima, os salvos cantam, com vozes que ressoam como um coro eterno, louvando o Mashiach que brilha no céu, com sua presença irradiando glória.
Amada, com os olhos fixos na figura celestial, começa, com a voz tremendo:
— Aquele é…
Madm, com a mão segurando a dela, completa, com a voz cheia de reverência:
— Sim! É o nosso salvador! O Mashiach, que retornou para nos salvar da opressão da Terra! Hoshianá! Nosso senhor, Yeshua!
Yeshua, com sua voz ecoando como trovão e melodia, proclama, com as palavras, enchendo o céu:
— Adorem meu pai, pois iremos ao seu encontro!
O grupo, com os corações transbordando de alegria, junta-se ao cântico, com suas vozes subindo em harmonia. A terra abaixo é um eco distante, com suas dores e perseguições apagadas pela luz do Mashiach.
