Gotham, 1963.
A névoa densa cobre as ruas de Gotham, tingindo com melancolia o ar com tons de cinza e prata, enquanto o som distante de sirenes ecoa pela cidade. Em uma banca de jornais, um palhaço de rosto pintado, com roupas coloridas e um olhar cansado, folheia uma revista. A manchete salta aos olhos: “Joe Chill, o assassino de um sonho”. Ele murmura, sarcástico:
— Um sonho? Quando um rico morre, morre um sonho? Quando um pobre morre, vira um número.
— Tenha um bom fim de dia, senhor Fleck. — Diz o vendedor, ajustando os jornais.
O palhaço Arthur Fleck sai caminhando para seu trabalho, enquanto o vendedor balança a cabeça e murmura:
— E o pior é que esse idiota tem razão.
A alguns quilômetros dali, em uma mansão imponente, o jovem Bruce Wayne, de 18 anos, filho de Thomas e Martha Wayne, folheia a mesma revista, os punhos cerrados. Alfred, o mordomo de cabelo grisalho e postura elegante, aproxima-se com uma bandeja de chá e adverte:
— Patrão Bruce, não confunda justiça com vingança! O que o senhor está desejando fazer é se vingar!
Bruce ergue a revista, os olhos ardendo de raiva.
— Veja esta revista, Alfred! Aqui está a verdade! Joe Chill não matou apenas um casal de pessoas preocupadas com o bem comum, ele matou um sonho! Ele matou um sonho e não será punido!
Alfred, com voz calma, retruca:
— Ele já foi punido, patrão Bruce. Está preso há oito anos e terá seu perdão por denunciar o crime organizado de Gotham.
— Alfred, depois da morte do meu pai, você foi quem esteve mais perto de ser um pai para mim, mas já estou crescido e sei que isso não é justo. Joe Chill foi condenado à prisão perpétua e deixará a prisão perdoado por entregar outros bandidos? — Questiona Bruce, com a voz carregada de indignação.
Ele fecha os olhos e a memória o transporta aos últimos dez anos. Aos oito anos, ele se lembra:
— Eu tinha apenas oito anos. Meus pais, bilionários que buscavam a promoção de justiça social em Gotham, pessoas que dedicaram sua vida às ações sociais, na defesa dos mais humildes, promovendo auxílio, gerando emprego e condições melhores para quem não tinha, mortos por um delinquente! Um marginal que, devido às drogas, escolheu, de forma obsoleta, viver nas ruas. Eu queria ir embora mais cedo aquele dia, não estava me sentindo bem, não gostava daquela ópera, estavam todos fantasiados de morcegos e eu estava com medo. Eles não queriam, queriam aproveitar o que chamavam de uma bela expressão cultural. Após eu muito incomodar, meus pais decidiram deixar a ópera e irem embora mais cedo. Saímos discretamente por uma porta lateral. Mal sabíamos o trágico destino que os aguardava. Logo que saímos, fomos atacados por Joe Chill, aquele maldito queria apenas algo para satisfazer seu vício. — Sua voz se eleva, cheia de ira. — Eles entregariam tudo, Alfred! Iam entregar tudo! Mas ele não esperou, sequer se prestou ao trabalho de aguardar. Atirou logo em seguida e matou ambos!
A cena se repete em sua mente, os tiros ecoando, o sangue no beco, os gritos abafados. Alfred tenta atenuar:
— Entendo, patrão Bruce! Eu entendo!
Bruce, com o olhar perdido, confessa:
— Quando o Tio Philip ficou com minha custódia, quando ele decidiu me enviar para o colégio interno na Inglaterra, quando retornei para terminar minha formação e ser cuidado por você após a morte dele, hoje, em todos os tempos que vivi, nunca consegui esquecer. Lembro de cada detalhe daquela noite.
Alfred, com sua barba branca e experiência acumulada, se cala, observando o jovem que ajudou a criar. Em seus pensamentos, avalia: “Ele acaba de completar 18 anos, seus sentimentos estão dominados pelo ódio, sede de vingança e justiça. Tornou-se um jovem indignado, raivoso, contudo, ignorante quanto ao funcionamento do mundo.”
O silêncio é quebrado por Bruce, determinado:
— Agora, o criminoso que matou o sonho do legado de meus pais estará livre porque fez acordo para entregar os chefes da máfia de Gotham! Não, Alfred! Ele não pode ficar impune! Passaram-se dez anos, mas ele precisa continuar a ser punido. Eu farei justiça!
Ponta Porã, naquele instante.
O céu de Ponta Porã se tinge com tons de laranja e rosa ao entardecer, enquanto a camionete de William estaciona diante de sua casa. Madm, Amada, Menslike, Nokram, Luk, Healer e Bebeto, acompanhados por Let, saem ansiosos ao encontro. William e Ângela descem, e Let, com um sorriso, pergunta:
— E então? Confirmaram? Você está curada, cunhadinha?
Ângela, levantando as mãos para acalmar, justifica:
— Calma, Let, os resultados não saem imediatamente.
No entanto, William, com um brilho nos olhos, tira um pequeno recibo do bolso e diz:
— Mas tenho certeza de que Ângela está curada. Pensei pelo caminho e creio que vocês foram realmente enviados por Deus. — Ele entrega o papel a Madm, que o observa e percebe ser um bilhete de loteria com os números que o Cristal do Conhecimento apontou como possíveis a serem sorteados.
Madm, cauteloso, adverte:
— Você sabe que estes foram os números sorteados nesta data na nossa realidade. Não podemos ter certeza de que eles se repetirão aqui. Não sabe?
William sorri, tocando o ombro de Madm com firmeza:
— Se o Todo Poderoso os enviou para cá, você acha que ele não os abençoará com recursos adequados para fazerem a vontade dele? — Madm sorri e silencia, enquanto William conclui: — Eu registrei a aposta, mas este recurso pertencerá a vocês!
Fazenda de Thomaz Muller.
Na fazenda, o crepúsculo lança sombras longas sobre os campos. Thomaz Muller, sentado em seu escritório, recebe Duck, um dos seus homens de confiança. Com olhar astuto, ele relata:
— Senhor, parece que o William conhecia aquele pessoal. Ele os levou para sua casa. Segundo o delegado Morales, eles eram amigos da sua irmã na Inglaterra.
Indignado, Thomaz se levanta e grita para Kilba, que passa pela porta:
— E aí? Ainda acha que aqueles farsantes eram anjos de Deus? Será que Deus os enviou para a Inglaterra em associação com William, antes de os enviar a nós?
Kilba, hesitante, baixa o olhar, enquanto Duck observa em silêncio.
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