9.1. A Festa e o Mandamento.
Residência de William, Ponta Porã – MT
O sol começa a se pôr em Ponta Porã, tingindo com tons de laranja e rosa o céu sobre a casa de William. Dentro da sala, a atmosfera está carregada de emoção após a constatação do milagre da cura de Ângela. Madm, com os olhos brilhando, reúne seus amigos — Amada, Menslike, Nokram, Luk, Healer e Bebeto — e se dirige a William e Ângela, que ainda se abraçam, com a voz cheia de propósito.
— Eu queria que vocês atribuíssem o milagre a Deus e não citassem nossa participação nisto tudo! — Pede ele.
Ângela, abraçando William com mais força, responde com a voz trêmula de gratidão:
— Claro! Foi Deus quem nos abençoou!
William, assentindo vigorosamente, acrescenta com um tom respeitoso:
— Se é o seu desejo, é uma ordem que acatarei! — Ele faz uma pausa, sorrindo, e explica: — Convidei diversos vizinhos, amigos e colegas de batalhão para a festa que farei à noite para celebrar a cura de minha esposa.
Menslike, sempre curioso, inclina-se para frente e pergunta, com um sorriso simpático:
— Capitão, vai ser um churrasco grande, né? Quantas pessoas você acha que virão?
— Pelo menos umas cem pessoas, Menslike! Quero que todos saibam da bênção que recebemos. — Responde William.
Bebeto, com seu jeito brincalhão, dá um tapa leve no ombro de Menslike e diz, rindo:
— Melhor preparar o estômago, amigo! Se for como o churrasco do Healer na nossa realidade, vamos precisar de mais carne!
Healer, sério, diz:
— Você quase nem viveu conosco na nossa realidade, não tem como saber como eram nossos churrascos.
William os interrompe e dispara:
— Fiquem tranquilos, teremos carne suficiente para todos.
— Que a festa glorifique o Altíssimo, e não a nós. Que todos vejam apenas a mão dele nisso. — Insiste, Madm.
A noite cai e o quintal da casa de William se transforma em um mar de luzes amareladas das lamparinas espalhadas no quintal, enquanto o cheiro de carne assando enche o ar com tons de fumaça e tempero. Um amigo de William, um homem magro, mas forte e de mãos calejadas, prepara a carne no churrasco, empilhando generosas porções de bovino, suíno e linguiças.
Amada, observando com atenção, percebe a presença de carne de porco e se aproxima de Madm discretamente, sussurrando com a voz cheia de preocupação:
— Madm, o churrasqueiro está manuseando carne de porco e linguiça suína. O que fazemos?
Madm, franzindo a testa, indaga:
— Você conversou com ele e verificou a possibilidade de ele assar separadamente os dois tipos de carne?
— Não! Acho que você deveria conversar sobre isso com o William. — Sugere ela, nervosa.
— Primeiro, vou conversar com o churrasqueiro, ver se ele pode assar os dois tipos de carne separadamente. — Decide, Madm, caminhando até o homem. Com um tom respeitoso, ele pergunta: — Seria possível assar separadamente as carnes bovinas da carne suína?
O homem, limpando as mãos no avental, responde com curiosidade:
— Claro! Creio que o Capitão William está fazendo tudo para agradá-los. Mas, a título de curiosidade, por que isso?
Madm, com calma, explica:
— As Escrituras nos ensinam que Deus permitiu que nos alimentássemos de carne bovina, de galinha e de outros animais, porém, Deus proíbe que nos alimentemos de carne suína, de coelho, répteis, peixes sem nadadeiras ou escamas, entre outros.
— Sério? Mas onde Deus proibiu? E por que a Igreja não nos ensina isso? — Pergunta o homem, intrigado.
— Quanto às igrejas, acho que essa pergunta deve ser direcionada aos seus líderes religiosos, mas as Escrituras vedam claramente a alimentação de alguns animais, os quais ela classifica como alimentos impróprios para servir de alimento. — Responde Madm.
William, atraído pela conversa, se aproxima e indaga:
— Mas qual é o problema com a carne de porco?
Madm sorri e pergunta:
— Então! O senhor tem uma Bíblia aqui?
William, rindo, responde:
— Senhor? Eu temo a Deus! — Ele sinaliza para Ângela: — Você pode pegar nossa Bíblia?
Minutos depois, Ângela retorna com uma versão septuaginta católica das Escrituras, um livro pesado e envelhecido. Madm abre as Escrituras no livro de Levítico, capítulo 11, e pede:
— Leia o versículo 7, por favor.
William, com a voz hesitante, lê:
— “Também o porco será para vocês imundo. Não comereis a sua carne e não tocareis o seu cadáver.” — Ele faz uma cara de espanto.
Madm explica:
— Quando Deus permitiu que nós comêssemos alguns tipos de carne, Ele permitiu apenas os animais limpos, sendo vedado aos amigos do Altíssimo comermos as carnes dos animais considerados imundos. O porco é um dos animais considerados imundos, pois, apesar de ter unhas fendidas, não é ruminante.
— Meu Deus, e por que a Igreja não nos ensina isso? — Pergunta, William, atônito.
— A Igreja Católica, em suas convenções, entende que a Bíblia não é a autoridade suprema para nossa conduta na terra. Ela entende que os pais da Igreja e seus bispos são autoridade constituída por Deus para alterar qualquer regra ou mandamento. Ou seja, a meu ver, os católicos acabam seguindo as tradições dos bispos e desprezando as Escrituras. — Afirma Madm.
— Mas a Bíblia não é a palavra de Deus? Quem somos nós para desprezar a palavra de Deus e escolher viver a nosso modo? — Indaga William, com os olhos arregalados.
— Obedecer a Deus é uma escolha individual nossa. Alguns seguem suas próprias regras, alguns escolhem seguir as regras de outros, e muito poucos são os que defendem obediência aos mandamentos de Deus. — Conclui Madm.
Por um instante, o capitão encara o fogo do braseiro — e vê ali o reflexo de tudo o que ainda precisa queimar dentro de si.
Então, ele se levanta, se dirige até o churrasqueiro, coloca as mãos nas costas dele e ordena:
— Bobby, será que você pode separar tudo que for de porco e não preparar esta noite? Pois acabo de compreender que se alimentar deste tipo de alimento não agrada ao Deus que nos curou. O Deus que curou minha esposa.
— Claro! Mas o que faremos com a carne de porco e as linguiças? — Pergunta Bobby.
— Pode levar para sua casa ou, se também quiser obedecer a Deus, jogue fora. Prejuízo pouco, muitas vezes é lucro! — Pondera William.
Ele retorna para dentro da casa e diz:
— Ângela, Let, a partir deste dia, não quero carne de porco nesta casa. — Virando-se para Madm, continua: — Madm, seria possível você nos ensinar sobre as Escrituras e auxiliar-nos a abandonar as nossas práticas que não estiverem de acordo com a vontade de Deus?
— Claro! — Diz Madm, sorrindo.
Enquanto isso, Let percebe Luk e Nokram afastados perto da varanda e se aproxima, intrigada:
— Então vocês não vão participar do churrasco conosco?
Nokram, com um sorriso tranquilo, responde:
— Claro que vamos!
— Mas vocês dois não são vegetarianos? — Indaga ela, surpresa.
Luk, com a voz serena, explica:
— Somos! A gente entende que Deus criou todos os seres vivos e não é adequado nos alimentarmos deles.
Let, confusa, confronta:
— Mas o Madm e os outros comem carne?
— Sim, Deus permitiu, apesar de não aprovar, mas Luk e eu optamos por já vivermos essa bênção — a da abstenção do alimento animal — neste tempo, conforme fazíamos na realidade em que vivíamos. — Justifica, Nokram.
— Então, como vão participar conosco? — Insiste a moça.
— Vamos comer tudo que não tiver carne e vamos nos divertir de igual forma. — Justifica, Luk, com um aceno amigável.
O riso se espalha pelo quintal, dissolvendo qualquer tensão anterior. Ali, sob o brilho das lamparinas, o convívio se transforma em lição viva de respeito e amor ao Criador.
Bebeto ouve a conversa, se junta ao grupo, ri e diz:
— Vou ficar de olho para garantir que vocês não roubem meu pedaço de pão!
A leveza do momento aquece o clima, e Let sorri, aceita a explicação.
9.2. Confrontando a realidade.
Gotham.
Enquanto se organiza a festa na casa de William, em Ponta Porã, em Gotham, a noite cai, tingindo o ar com tons de cinza e neblina. Bruce Wayne, após o confronto com Rachel, estaciona seu carro diante do restaurante Iceberg Dinner, um prédio imponente, iluminado por luzes verdes que piscam sobre a neblina, envolto por uma atmosfera sombria. Com a Colt Python 357 Magnum na mão, ele respira fundo, seus pensamentos giram com raiva e determinação. “Vou acabar com Falcone, o verdadeiro câncer de Gotham”, pensa, saindo do veículo.
Dentro do restaurante, ele avista Carmine Falcone, um homem de meia-idade com cabelo negro e olhar frio, jantando solitário em uma mesa de canto. Sem hesitar, Bruce se aproxima e se senta à sua frente, encarando-o com os olhos ardendo de ódio.
Falcone, com um sorriso cínico, o recebe:
— Veio me agradecer por fazer justiça ao assassino de seus pais?
Bruce, cerrando os punhos, rebate:
— Não! Vim fazer justiça a quem realmente faz mal a Gotham!
Falcone, percebendo a ira nos olhos de Bruce, ergue a mão calmamente, sinalizando para os capangas nas mesas ao redor que se mantenham quietos. Durante o dia, Bruce meditou sobre as palavras de Rachel: Joe era apenas um viciado, mas Falcone é o mestre do crime. Ele agora busca os verdadeiros culpados.
Falcone percebe a arma apontada para ele embaixo da mesa e, com voz pausada, começa:
— Sabe quem está naquela mesa, filho? — Ele aponta para o chefe do departamento de polícia, rindo baixo. — Quantos seguranças particulares estão a meu serviço, disfarçados? Você acha que o Comissário Loeb, chefe de polícia, defenderia você, filho, ou me protegeria?
Bruce abaixa a cabeça, sentindo a raiva crescer, mas se cala. Falcone prossegue:
— Aqui estão comerciantes que são meus aliados, empresários, policiais que participam da minha folha salarial, injustiçados pelos baixos salários que o poder público lhes presta. Injustiça essa que eu busco corrigir.
Girando o rosto, Bruce vê o prefeito da cidade e Falcone indaga:
— Quem você acha que garante a paz em Gotham? Que possibilita ao nobre alcaide municipal, o prefeito Hamilton Hill, a possibilidade de proporcionar uma sensação de segurança à população? O caso de seu pai foi algo que não deixarei ocorrer novamente, pois eu sou a lei em Gotham, e hoje, eu puni aquele que infringiu as regras da cidade.
Extasiado de raiva, Bruce levanta a arma e, à frente de todos, a aponta para a testa de Falcone, que, sem medo, aproxima sua testa ainda mais da arma, de maneira que ela toca sua pele e provoca:
— Atire! Você será o causador do caos da cidade! Será condenado e será a manchete dos jornais! Atire e verá uma briga entre aqueles que eu subjugo, em busca da minha posição. Você acha que um eventual sucessor será tão bondoso quanto eu? Terá regras justas como as minhas para reger a cidade? Se tem dúvidas, pague para ver!
A vontade de atirar consome Bruce, as memórias de seus pais e a adolescência solitária no colégio interno o impulsionam. Mas as palavras de Falcone o atingem — matá-lo agora seria inútil. Ele precisa de mais para combater o crime organizado.
Repentinamente, Bruce guarda a pistola, levanta-se e sai sem dizer nada. Após alguns passos, ouve Falcone chamá-lo:
— Bruce! — O jovem se vira, e Falcone se aproxima, com um tom inesperadamente sério: — A morte de seu pai foi uma perda irreparável para esta cidade. Eu sei a dor que sente e não vou deixar nunca que se esqueçam do legado de seu pai.
Bruce mantém o silêncio e caminha para fora. No beco adjacente, vê um morador de rua e, sem hesitar, tira o paletó, dizendo:
— É seu, e quero te dar a camiseta e a calça também, mas quero sua roupa!
Espantado, o homem responde:
— Está fedida, senhor.
Bruce, ignorando, vai ao beco, tira sua camisa e calça e ordena:
— Venha! Troque sua roupa comigo, pois o cheiro de nossa sociedade fede muito mais do que suas roupas!
O morador de rua, largando seu rádio à pilha, troca as roupas rasgadas pelas de Bruce. Ao vestir o paletó, percebe a carteira cheia de dólares e grita:
— Hey, senhor, seus documentos!
Bruce ignora e apressa o passo. Enquanto ele desaparece nas sombras, o rádio deixado para trás continua a falar, indiferente ao que acaba de acontecer:
— Parece inacreditável, mas o Gambit, o cruzeiro organizado pelo bilionário Robert Queen, naufragou no Pacífico. Eu sou Alan Scott e infelizmente tive que compartilhar contigo esta triste notícia.
9.3 Vozes na festa.
Nesse ínterim, em Ponta Porã.
O quintal de William pulsa com risadas e conversas; as luzes das lamparinas refletem nos rostos alegres dos vizinhos e amigos. A música toca baixo, e o aroma de carne bovina assada enche o ar. George Anderson e Charlie Swan se aproximam de William, acompanhados do Major Ringo e de um policial de cabelos dourados e sorriso fácil. Copos na mão, o álcool suaviza suas expressões.
— Capitão, quem realmente são esses forasteiros? — Pergunta, George, lançando um olhar desconfiado para Madm.
Charlie inclina a cabeça e acrescenta:
— Estavam com o Muller. O senhor parecia pronto para investigá-los… e agora os trata como velhos amigos?
William hesita, procurando uma resposta que pareça convincente, mas Let intervém com um sorriso conquistador:
— Vocês, homens, deveriam fazer como meu irmão: ouvir mais as mulheres. Muitos de vocês nem trouxeram suas esposas para celebrar este grande momento conosco. Mas, quando vi o grupo, os reconheci. Lembrei deles quando nos conhecemos na Inglaterra.
O jovem policial de cabelos dourados rebate:
— Hey, Let, eu não sou casado.
Ele ergue o copo e completa, mais animado:
— E também não questionei nada! Seja quem forem, eles curaram a dona Ângela… e deixaram vocês ricos!
Ele ri alto.
— Só lamento você não tê-los levado à minha casa.
A fala impulsiva do Dourado, somada ao clima festivo e ao álcool, silencia o grupo. George ri, bate no ombro de William e diz:
— Tá certo, Let. Pela amizade com o capitão, vamos deixar quieto… por agora.
Ringo observa o grupo com firmeza.
— Anderson, você deveria desconfiar menos de homens íntegros como o Capitão William… e mais da sua própria sombra.
Ele então se volta para o jovem:
— Quanto a você, Dourado, se quiser ser um bom policial, fale menos besteira.
O major olha para Charlie, que abaixa a cabeça, e encerra o assunto.
Let se afasta dos policiais e se aproxima de Amada, tocando seu braço e apontando para Madm, que conversa com uma jovem loira.
— Seu marido vai fazer sucesso. Você não tem ciúmes de vê-lo conversando com garotas solteiras como a Blue Mary?
Amada balança a cabeça e sussurra:
— Vivi com ele por oitenta anos. Se isso não bastou para que aprendêssemos a confiar um no outro… melhor nos separarmos.
Ela observa Madm e prossegue:
— Além disso, a Blue Mary é amiga da Ângela. Parece realmente feliz pela cura.
Blue Mary, empolgada, exclama diante de Madm:
— Eu prometo que vou orar todos os dias por vocês! Ângela estava sofrendo muito. Que Deus abençoe vocês! Minha amiga merecia essa cura!
Madm sorri e responde:
— Quem a curou foi Deus. Nós só fomos beneficiados por chegar aqui no tempo em que o Criador decidiu realizar milagres. Toda glória e honra pertencem somente a Ele.
Enquanto isso, Carlisle Cullen, de pele pálida e olhar penetrante, conversa com sua esposa perto da mesa de bebidas.
— Você reparou? Miguel não está aqui. E, aparentemente, os sete amigos da namorada dele estavam envolvidos no “milagre” da Ângela. — Diz Esme, fazendo aspas no ar.
Carlisle toca o queixo:
— Tudo muito bem arquitetado por Miguel… inclusive a ausência dele. Mas não sei onde esses sete estranhos se encaixam.
Ele então ergue o nariz levemente.
— Você sente o cheiro daquele policial? O Anderson?
— Cheiro não… fedor de cachorro. — Responde Esme, franzindo o nariz.
George, como se percebesse algo, ergue o rosto lentamente — e seus olhos avermelham por um instante. Os olhos de Carlisle e Esme também se estreitam, tensos. Os três se encaram diretamente.
— Ele não tem medo, Esme… — diz Carlisle, inquieto.
— É um lobisomem! Será que está envolvido? — Pergunta, Esme.
— Pouco provável. Mas deve estar investigando tudo… como nós. — Responde Carlisle.
William sobe numa cadeira e pede silêncio:
— Amigos, vizinhos, companheiros de batalhão… Como vocês sabem, hoje Deus nos visitou e trouxe cura à minha esposa. Quero que Madm, amigo que minha irmã conheceu na Inglaterra, nos diga algumas palavras. Vamos prestar um culto de gratidão nesta noite.
Madm se coloca à frente. Quando abre a boca, o quintal silencia.
— Fico feliz por esta oportunidade, William. Quero enfatizar que, segundo a Torá, no livro de Bereshit — Gênesis —, o Eterno criou o ser humano. Ele criou homem e mulher à Sua imagem. Eram perfeitos. Não deveriam morrer. Não deveriam adoecer. Doenças, dores e enfermidades… jamais deveriam existir entre os homens…
9.4. A Iceberg Lounge.
Gotham — Iceberg Lounge.
Enquanto Madm fala na casa de William, em Ponta Porã, em Gotham a noite se aprofunda, pesada e úmida. Carmine Falcone dirige pelas ruas estreitas até estacionar seu Cadillac preto diante do Iceberg Lounge, uma boate gótica envolta por luzes verdes pulsantes que tremulam sobre a calçada como um aviso silencioso.
O prédio divide o quarteirão com o Iceberg Dinner, o restaurante onde estivera momentos antes.
As duas casas funcionam como duas faces de um mesmo império, conectadas pelos fundos:
O Dinner voltado para a rua principal, discreto e “respeitável”;
O Lounge voltado para a rua paralela, onde a verdadeira elite de Gotham se reúne.
Ambos pertencem ao mesmo dono e servem como pontos estratégicos da máfia, cada um com sua função.
Falcone desce do Cadillac com a postura de quem sabe que aquela quadra respira sob sua autoridade.
Fecha a porta do carro com calma, ajeita o terno impecável e avança com passos firmes — os passos de um homem que, aparentemente, não teme ninguém.
Ao entrar no saguão, a música grave do Lounge vibra como um coração sombrio.
Um homem baixo e corpulento o recebe — nariz adunco, monóculo no olho direito e uma bengala ornamentada apoiada com o cuidado de quem parece carregar uma antiga lesão na perna.
— Estão todos esperando o senhor, Dom Falcone. — Diz ele com um leve curvar de cabeça.
Falcone aperta a mão do homem com firmeza, o olhar tão pesado quanto calculado.
— Perdão pelo atraso, Cobblepot. Tive um contratempo com um jovem, mas nada que não esteja resolvido.
Cobblepot esboça um sorriso astuto.
— Jovens sempre acreditam que podem mexer no que não entendem.
Falcone não demonstra irritação.
Seu tom é grave, mas não hostil — uma mistura de frieza e algo que, visto de muito perto, poderia lembrar a sombra distante de preocupação.
— Cresceu cercado de tragédias, Oswald. Está perdido. E gente perdida costuma fazer besteira.
A frase soa como desprezo, mas há uma fissura silenciosa nela — um cuidado que Falcone mascara com palavras duras.
Ele não expõe afeto.
Ele o disfarça para proteger quem não pode ser visto como seu ponto de fraqueza.
Cobblepot ergue uma sobrancelha, atento, mas nada comenta.
Falcone ajeita o paletó, firme, recolhendo para si qualquer emoção que não deva escapar.
Cobblepot faz um gesto discreto para que ele o acompanhe.
Eles entram no salão principal, onde a música envolve tudo em ondas densas.
O Lounge está cheio — figurões da política, empresários, policiais discretos, criminosos de várias famílias.
Conversas sussurradas, olhares calculados, tensões invisíveis.
Falcone observa cada rosto, cada gesto, cada movimento — a precisão de um general que conhece seu campo de batalha.
Ele não bebe.
Ele não ri.
Ele apenas observa.
O homem ao seu lado se inclina e diz em voz baixa:
— A cidade está inquieta esta noite, Dom Falcone.
Falcone não responde.
Apenas segue adiante, avançando pelo coração da Iceberg Lounge, enquanto a noite de Gotham — viva, sombria e imprevisível — começa silenciosamente a mudar de forma.






2 Comments
Wow por onde começar a comentar, aconteceu muita coisa neste capítulo, William mudou sua visão sobre a nova alimentação kosher, Luk mostra que não come carne confrontando a alimentação do grupo Madimico, Bruce não consegue matar Falcone e logo após troca suas roupas pelas roupas de um morador de rua deixando sua carteira e documentos pra onde será que ele vai?
E neste capítulo mostra que existem Lobisomens e que aparentemente Anderson um dos policiais é um deles, já tem vampiros e agora lobisomens que mais vai ter será?
Vamos ver como essa história vai se sair no decorrer do caminho.
Muita coisa acontecendo a mesmo tempo ein, gostei que eles não pegaram a glória pra eles, por mais que isso era esperado.
Gotham cheia de conflitos como sempre Bruce vai deixar de ser burro e ficar mais um passo a frente em ser o Batman.
Finalmente um lobohomi AUUUUUU