O sol começa a se pôr em Ponta Porã, tingindo com tons de laranja e rosa o céu sobre a casa de William. Dentro da sala, a atmosfera está carregada de emoção após a constatação do milagre da cura de Ângela. Madm, com os olhos brilhando de humildade, reúne seus amigos — Amada, Menslike, Nokram, Luk, Healer e Bebeto — e se dirige a William e Ângela, que ainda se abraçam, com a voz cheia de propósito.
— Eu queria que vocês atribuíssem o milagre a Deus e não citassem nossa participação nisto tudo! — Pede ele.
Ângela, abraçando William com mais força, responde com a voz trêmula de gratidão:
— Claro! Foi Deus quem nos abençoou!
William, assentindo vigorosamente, acrescenta com um tom respeitoso:
— Se é o seu desejo, é uma ordem que acatarei! — Ele faz uma pausa, sorrindo, e explica: — Convidei diversos vizinhos, amigos e colegas de batalhão para a festa que farei à noite para celebrar a cura de minha esposa.
Menslike, sempre curioso, inclina-se para frente e pergunta, com um sorriso gentil:
— Capitão, vai ser um churrasco grande, né? Quantas pessoas você acha que virão?
— Pelo menos umas cem pessoas, Menslike! Quero que todos saibam da bênção que recebemos. — Responde William.
Bebeto, com seu jeito brincalhão, dá um tapa leve no ombro de Menslike e diz, rindo:
— Melhor preparar o estômago, amigo! Se for como o churrasco do Healer na nossa realidade, vamos precisar de mais carne!
Healer, sério, diz:
— Você quase nem viveu conosco na nossa realidade, não tem como saber como eram nossos churrascos.
William os interrompe e dispara:
— Fiquem tranquilos, teremos carne suficiente para todos.
— Que a festa seja para glorificar o Altíssimo, não nós. Que todos vejam Sua mão nisso. — Insiste Madm
A noite cai e o quintal da casa de William se transforma em um mar de luzes amareladas das lanternas e o cheiro de carne assando enche o ar com tons de fumaça e tempero. Um amigo de William, um homem corpulento de mãos calejadas, prepara a carne no churrasco, empilhando generosas porções de bovino, suíno e linguiças. Amada, observando com atenção, percebe a presença de carne de porco e se aproxima de Madm discretamente, sussurrando com a voz cheia de preocupação:
— Madm, o churrasqueiro está manuseando carne de porco e linguiça suína. O que fazemos?
Madm, franzindo a testa, indaga:
— Você conversou com ele e verificou a possibilidade de ele assar separadamente os dois tipos de carne?
— Não! Acho que você deveria conversar sobre isso com o William. — Sugere ela, nervosa.
— Primeiro, vou conversar com o churrasqueiro, ver se ele pode assar os dois tipos de carne separadamente. — Decide Madm, caminhando até o homem. Com um tom respeitoso, ele pergunta: — Seria possível assar separadamente as carnes bovinas da carne suína?
O homem, limpando as mãos no avental, responde com curiosidade:
— Claro! Creio que o Capitão William está fazendo tudo para agradá-los. Mas, a título de curiosidade, por que isso?
Madm, com calma, explica:
— As escrituras nos ensinam que Deus permitiu que nos alimentássemos de carne bovina, de galinha e de outros animais, porém, Deus proíbe que nos alimentemos de carne suína, de coelho, répteis, peixes sem barbatanas ou escamas, entre outros.
— Sério? Mas onde Deus proibiu? E por que a Igreja não nos ensina isso? — pergunta o homem, intrigado.
— Quanto às igrejas, acho que essa pergunta deve ser direcionada aos seus líderes religiosos, mas as Escrituras claramente vedam a alimentação de alguns animais, aos quais ela classifica como alimentos impróprios para servir de alimento. — Responde Madm.
William, atraído pela conversa, se aproxima e indaga:
— Mas qual o problema com a carne de porco?
Madm sorri e pergunta:
— Então! O senhor tem uma Bíblia aqui?
William, rindo, responde:
— Senhor? Eu temo a Deus! — Ele sinaliza para Ângela: — Você pode pegar nossa Bíblia?
Minutos depois, Ângela retorna com uma versão septuaginta católica das Escrituras, um livro pesado e envelhecido. Madm abre as Escrituras no livro de Levítico, capítulo 11, e pede:
— Leia o versículo 7, por favor.
William, com a voz hesitante, lê:
— Também o porco, será para vocês imundo. Não comereis a sua carne e não tocareis o seu cadáver! — Ele faz uma cara de espanto.
Madm explica:
— Quando Deus permitiu que nós comêssemos alguns tipos de carne, Ele permitiu a nós, comermos apenas os animais limpos, sendo vedado aos amigos do Altíssimo, comermos as carnes dos animais considerados imundos. O porco é um dos animais considerados imundos, pois apesar de ter unhas fendidas, não é ruminante.
— Meu Deus, e por que a igreja não nos ensina isso? — Pergunta William, atônito.
— A Igreja Católica, em suas convenções, entende que a Bíblia não é a autoridade suprema para nossa conduta na terra. Ela entende que os pais da Igreja e seus bispos são autoridade constituída por Deus para alterar qualquer regra ou mandamento. Ou seja, a meu ver, os católicos acabam seguindo as tradições dos bispos e desprezando as escrituras. — Afirma Madm.
— Mas a Bíblia não é a palavra de Deus? Quem somos nós para desprezar a palavra de Deus e escolhermos viver a nosso modo? — Indaga William, com os olhos arregalados.
— Obedecer a Deus é uma escolha individual de cada um de nós. Alguns seguem suas próprias regras, alguns escolhem seguir as regras de outros, e muito poucos são os que defendem obediência aos mandamentos de Deus! — Conclui Madm.
William se levanta imediatamente, se dirige até colocar as mãos nas costas do churrasqueiro e ordena:
— Bobby, será que você pode separar tudo que for de porco e não preparar esta noite? Pois acabo de compreender que se alimentar deste tipo de alimento não agrada ao Deus que nos curou. O Deus que curou minha esposa.
— Claro! Mas o que faremos com a carne de porco e as linguiças? — Pergunta Bobby.
— Pode levar para sua casa, ou, se também quiser obedecer a Deus, jogue fora. Prejuízo pouco, muitas vezes é lucro! — Pondera William. Ele retorna para dentro da casa e diz: — Ângela, Let, a partir deste dia, não quero carne de porco nesta casa. — Virando-se para Madm, continua: — Madm, seria possível você nos ensinar sobre as escrituras e auxiliar-nos a abandonar as nossas práticas que não estiverem de acordo com a vontade de Deus?
— Claro! — Diz Madm, sorrindo.
Enquanto isso, Let percebe Luk e Nokram afastados perto da varanda e se aproxima, intrigada:
— Então vocês não vão participar do churrasco conosco?
Nokram, com um sorriso tranquilo, responde:
— Claro que vamos!
— Mas vocês dois não são vegetarianos? — Indaga ela, surpresa.
Luk, com a voz serena, explica:
— Somos! A gente entende que Deus criou todos os seres vivos e não é adequado nos alimentarmos deles.
Let, confusa, confronta:
— Mas o Madm e os outros comem carne?
— Sim, Deus permitiu, apesar de não aprovar, mas Luk e eu optamos por já vivermos essa benção, da abstenção do alimento animal, neste tempo, conforme fazíamos na realidade em que vivíamos. — Justifica Nokram.
— Então, como vão participar conosco? — Insiste a moça.
— Vamos comer tudo que não tiver carne e vamos nos divertir de igual forma. — Justifica Luk, com um aceno amigável.
Bebeto, ouve a conversa, se junta ao grupo, ri e diz:
— Vou ficar de olho pra garantir que vocês não roubem meu pedaço de pão!
A leveza do momento aquece o clima, e Let sorri, aceita a explicação.
Gotham.
Enquanto a festa se organiza em Ponta Porã, em Gotham, a noite cai, tingindo com sombras o ar com tons de cinza e neblina. Bruce Wayne, após o confronto com Rachel, estaciona seu carro diante do restaurante Iceberg Dinner, um prédio imponente com luzes verdes piscantes e uma atmosfera sombria. Com a Colt Python 357 Magnum na mão, ele respira fundo, os pensamentos girando com raiva e determinação. “Vou acabar com Falcone, o verdadeiro câncer de Gotham”, pensa, saindo do veículo.
Dentro do restaurante, ele avista Carmine Falcone, um homem de meia-idade com cabelo grisalho e olhar frio, jantando solitário em uma mesa de canto. Sem hesitar, Bruce se aproxima e se senta à sua frente, encarando-o com os olhos ardendo de ódio.
Falcone, com um sorriso cínico, o recebe:
— Veio me agradecer por fazer justiça ao assassino de seus pais?
Bruce, cerrando os punhos, rebate:
— Não! Vim fazer justiça a quem realmente faz mal a Gotham!
Falcone, percebendo a ira nos olhos de Bruce, ergue a mão calmamente, sinalizando para os capangas nas mesas ao redor que se mantenham quietos. Durante o dia, Bruce meditou sobre as palavras de Rachel — Joe era apenas um viciado, mas Falcone é o mestre do crime. Ele agora busca os verdadeiros culpados.
Falcone percebe a arma apontada para ele embaixo da mesa e, com voz pausada, começa:
— Sabe quem está naquela mesa, filho? — Ele aponta para o chefe do departamento de polícia, rindo baixo. — Quantos seguranças particulares estão a meu serviço, disfarçados? Você acha que o chefe de polícia defenderia você, filho, ou me protegeria?
Bruce abaixa a cabeça, sentindo a raiva crescer, mas se cala. Falcone prossegue:
— Aqui estão comerciantes que são meus aliados, empresários, policiais que participam da minha folha salarial, injustiçados pelos baixos salários que o poder público lhes presta. Injustiça essa que eu busco corrigir.
Girando o rosto, Bruce vê o prefeito da cidade e Falcone indaga:
— Quem você acha que garante a paz em Gotham? Que possibilita ao nobre alcaide municipal a possibilidade de proporcionar uma sensação de segurança à população? O caso de seu pai foi algo que não deixarei ocorrer novamente, pois eu sou a lei em Gotham, e hoje, eu puni aquele que infringiu as regras da cidade.
Extasiado de raiva, Bruce levanta a arma e, à frente de todos, a aponta para a testa de Falcone, que, sem medo, aproxima sua testa ainda mais próxima à arma, de maneira que ela toca sua testa e provoca:
— Atire! Você será o causador do caos da cidade! Será condenado e será a manchete dos jornais! Atire e verá uma briga entre aqueles que eu subjugo, em busca da minha posição. Você acha que um eventual sucessor será tão bondoso quanto eu? Terá regras justas como as minhas para reger a cidade? Se tem dúvidas, pague para ver!
A vontade de atirar consome Bruce, as memórias de seus pais e a adolescência solitária no colégio interno, o impulsionando. Mas as palavras de Falcone o atingem — matá-lo agora seria inútil. Ele precisa de mais para combater o crime organizado.
Repentinamente, Bruce guarda a pistola, levanta-se e sai sem dizer nada. Após alguns passos, ouve Falcone chamá-lo:
— Bruce! — O jovem se vira, e Falcone se aproxima, com um tom inesperadamente sério: — A morte de seu pai foi uma perda irreparável para esta cidade. Eu sei a dor que sente e não vou deixar nunca que se esqueçam do legado de seu pai.
Bruce mantém o silêncio e caminha para fora. No beco adjacente, vê um morador de rua e, sem hesitar, tira o paletó, dizendo:
— É seu, e quero te dar a camiseta e a calça também, mas quero sua roupa!
Espantado, o homem responde:
— Está fedida, senhor.
Bruce, ignorando, vai ao beco, tira sua camisa e calça e ordena:
— Venha! Troque sua roupa comigo, pois o cheiro de nossa sociedade fede muito mais do que suas roupas!
O morador, largando seu rádio à pilha, troca as roupas rasgadas pelas de Bruce. Ao vestir o paletó, percebe a carteira cheia de dólares e grita:
— Hey, senhor, seus documentos!
Bruce ignora e apressa o passo. O morador, com medo, corre na direção oposta, deixando o rádio que anuncia:
— Parece inacreditável, mas o Gambit, o cruzeiro organizado pelo bilionário Robert Queen, naufragou no Pacífico. Eu sou Alan Scott e infelizmente tive que compartilhar contigo esta triste notícia.
Nesse ínterim, em Ponta Porã.
O quintal de William pulsa com risadas e conversas, as luzes das lanternas refletindo nos rostos alegres dos vizinhos e amigos. A música toca baixo, e o aroma de carne bovina assada enche o ar. George Anderson e Charlie Swan, dois policiais de postura rígida, aproximam-se de William com copos na mão, o álcool suavizando suas expressões.
— Capitão, quem realmente são esses forasteiros? — Pergunta George, com a voz baixa, lançando um olhar desconfiado para Madm.
Charlie, assentindo, acrescenta:
— Estavam com o Muller, o senhor pareceu que ia investigá-los e agora os trata como amigos de longa data?
William hesita, seus olhos buscam uma resposta que os convença, mas ele se cala enquanto Let intervém com um sorriso conquistador.
— Vocês, homens, deveriam fazer como meu irmão e ouvir mais as mulheres. Muitos de vocês nem suas esposas trouxeram para comemorar este grande momento conosco. Mas logo que vi o casal, os reconheci e lembrei deles quando nos conhecemos na Inglaterra.
A fala de Let, misturada ao clima festivo e ao álcool, silencia os policiais. George ri, dando um tapinha no ombro de William:
— Tá certo, Let. Pela amizade com o capitão, vamos deixar quieto por agora.
Enquanto isso, Carlisle Cullen, de pele pálida e olhar penetrante, conversa com sua esposa, uma mulher elegante de cabelos castanhos, perto da mesa de bebidas.
— Você reparou, Miguel não está presente e, aparentemente, os sete amigos de sua namorada foram os envolvidos no “milagre” da cura de Ângela. — Diz ela, fazendo aspas com os dedos.
Carlisle, com a mão no queixo, indaga:
— Então, tudo parece ter sido muito bem articulado por Miguel, inclusive sua ausência. Eu não sei onde esses sete estranhos amigos da garota se encaixam, mas você sente o cheiro daquele policial?
— Cheiro não, fedor de cachorro. — Responde Esme, franzindo o nariz.
George, como se ouvisse, olha para o casal e, por um momento, seus olhos avermelham, assim como os de Carlisle e Esme. Os três se encaram diretamente.
— Ele não tem medo, Esme! — Dispara Carlisle, tenso.
— É um lobisomem! Será que está envolvido? — Indaga Esme, alarmada.
— Acho pouco provável, mas deve estar investigando tudo isso como nós. — Responde Carlisle, com um aceno.
William, subindo em uma cadeira, pede a palavra:
— Amigos, vizinhos, companheiros de batalhão, como vocês sabem, hoje é um dia muito especial. Eis que Deus nos visitou e fez isso através de meus amigos, aos quais enviou à minha casa, me trazendo palavras de conforto, enquanto curava minha amada esposa. Por isso, quero que Madm, um dos amigos que minha irmã Letícia conheceu na Inglaterra enquanto esteve por lá, dirija uma palavra a nós para prestarmos um culto de gratidão a Deus nesta noite.
Madm se coloca à frente, pedindo a todos que se assentem, e começa seu sermão com a voz cheia de reverência:
— Fico feliz por esta oportunidade, William. Eu quero enfatizar que, segundo a Torá, no livro de Bereshit, que conhecemos como Gênesis, Elohim, o verdadeiro Deus, a força primordial e superior do Universo, o Eterno criou o ser humano. A Bíblia diz que criou homem e mulher, e eles eram a imagem de Deus, perfeitos, não deveriam morrer, nem ficar doentes. Doenças, dores, enfermidades não deveriam existir entre os homens…
Gotham – Iceberg Lounge.
Enquanto Madm fala, em Gotham, Carmine Falcone estaciona seu Cadillac preto diante da Iceberg Lounge, uma boate de fachada gótica com luzes verdes pulsantes e uma aura de poder com nome semelhante ao restaurante que estava anteriormente. Ele sai com passos confiantes, o terno impecável refletindo sua autoridade. Dentro, é recebido por Oswald Cobblepot, conhecido como o Pinguim, um homem baixo e corpulento de nariz adunco, com um monóculo no olho direito e uma bengala ornamentada. Sua personalidade é astuta e teatral, com um sorriso que esconde intenções sombrias.
— Estão todos esperando o senhor, Dom Falcone. — Diz Cobblepot, curvando-se ligeiramente.
Falcone, cumprimenta-o com um aperto de mão firme:
— Perdão pelo atraso, tive um contratempo com um jovem imaturo, mas tudo já está resolvido.
Cobblepot ri, guiando-o para dentro:
— Esses jovens… Sempre trazendo surpresas, hein?