Star City, início de noite de quinta-feira, 28 de março de 1963, no calendário católico.
A campainha da casa dos Drake toca incansavelmente. Um homem de cerca de 40 anos, com cabelos grisalhos e rugas marcadas pelo cansaço, caminha resmungando para atender.
— Calma, será que alguém morreu?
Ao abrir a porta, ele se depara com Moira Queen. Seus olhos estão vermelhos de tanto chorar, o rosto pálido e os cabelos loiros bagunçados. Tremendo de angústia, ela dispara:
— Quentin, preciso falar com a Dina.
Sem dizer mais nada, Quentin responde com voz firme:
— Acalme-se, entre, vou chamá-la!
Ele sobe a escada e bate à porta de sua filha. Dina abre, ajustando-se para uma apresentação musical. Ela veste um vestido justo de cetim vermelho, com decote ousado e fenda na coxa, típico do estilo sensual, complementado por luvas longas e brincos de pérola. Quentin a observa e diz:
— Sua sogra está aí, ela parece estar desesperada. Seria bom você descer rápido.
— Eu estou me arrumando para o trabalho, o que será que ela quer? — Indaga Dina, franzindo a testa.
— Desça para descobrir. Eu vou te esperar lá embaixo. — Responde ele.
As palavras do pai deixam Dina pensativa. Com seus belos cabelos castanhos caindo em ondas e olhos azuis profundos, ela desce e encontra Moira em tal estado. Sem saber o que dizer, Dina é surpreendida quando Moira corre até ela e a abraça.
— Filha, você precisa ser forte. — Diz Moira, com voz embargada.
— Ocorreu algo com o Olie? — Pergunta Dina, com o coração acelerado.
Com as mãos trêmulas, Moira pede para se sentar. Soluçando, ela se assenta enquanto Quentin e Dina a acompanham. Dina insiste:
— O que ocorreu com o Olie?
— Então… — Começa Moira, respirando fundo. — Piratas, assaltantes, bandidos invadiram o cruzeiro e mataram todos. Todos estão mortos, filha.
A expressão de Dina muda. Ela se levanta, coloca as mãos na cabeça e começa a chorar.
— Oliver, morto? — Indaga, incrédula.
Quentin se levanta, abraça a filha e diz:
— Você precisa ser forte, filha!
— Vocês precisam! — Adverte Moira.
Quentin, com sobriedade, replica:
— Vocês precisam, Oliver era seu filho, o amor da vida de minha filha…
Ele é interrompido por Moira:
— Quentin, eu não sabia.
— Ninguém poderia saber. — Responde Quentin, confuso.
— Todos morreram, Quentin. Todos! — Insiste, Moira.
— Meus sentimentos. — Diz Quentin, ainda sem compreender plenamente, já que Oliver era apenas seu futuro genro, sem laços profundos.
Então, Moira solta uma palavra que muda tudo:
— Sara, Quentin, ela estava com Olie, eu não sabia.
— O quê? — Indaga Dina, a dor dando lugar à ira. — Sara, o quê? — Insiste ela.
— A Sara estava com o Oliver, ela foi em seu lugar. — Confessa Moira.
Quentin a interrompe:
— A senhora deve estar louca, a Sara viajou com os jovens da igreja e deve estar chegando…
Ele raciocina, olha para Moira, que balança a cabeça negativamente. Fechando o punho, ele soca a parede:
— Aquele canalha! Abusou de minha filhinha!
Mansão Merlyn.
Nesse ínterim, no escritório de sua mansão, Malcolm Merlyn, de costas, chama seu filho, Tommy.
— O senhor me chamou? — Indaga, Tommy.
— Sim — Responde Malcolm, sem se virar. — As notícias não são boas. Parece que Oliver Queen foi para o cruzeiro com seu pai e levou junto a cunhada.
— A Dina descobriu? — Pergunta Tommy, tenso.
— Sim, da pior forma — Pontua Malcolm.
— Poxa, que vacilo dele, e como ela está? — Questiona o jovem.
— Não finja que está triste, nós dois sabemos que você sempre foi apaixonado por ela. — Provoca Malcolm.
— Não é a primeira vez que ele a trai, ela sempre o perdoa. — Enfatiza Tommy.
Malcolm gira a cadeira e o encara:
— Desta vez não. O cruzeiro de Robert foi atacado por piratas, e parece que não há sobreviventes.
A expressão de Tommy se transforma. Lágrimas escorrem, ele leva as mãos à cabeça e se assenta, desabafando:
— Oliver sempre te viu como um pai, Robert te viu como irmão, ele era seu sócio, Oliver era como um irmão para mim, a irmã de Dina está morta, e você diz isso como se tivesse me informando sobre o que comeu no almoço?
Com frieza, Malcolm ignora o desabafo:
— Se eu fosse você, sairia agora, iria até a casa de Dina e a consolaria. Quem sabe assim ela te veja como o grande amor da vida dela.
Tommy se levanta e, sem dizer nada, dirige-se à casa dos Drake. Após a saída do filho, Malcolm respira fundo e murmura sozinho:
— Você sempre será como um filho para mim, Oliver. Doeu muito fazer isso, mas você voltará em breve.
Residência dos Drake.
Na residência dos Drake, Dina e Quentin estão perdidos em pranto e ira.
— Aquele desgraçado! Eu sempre quis você longe dele, mas, como se não bastasse ele enganar você, ele violou e matou minha filhinha mais nova! — Lamenta Quentin, atirando um copo d’água contra a parede.
Dina, atônita, soluçando, permanece em silêncio.
A campainha toca. Quentin abre a porta e vê Tommy Merlyn. Irritado, dispara:
— Como se não bastasse o monstro, deixou o melhor amigo para vir me assombrar?
Tommy, com os olhos vermelhos de lágrimas, responde:
— Meus sentimentos, Sr. Drake, a Dina está?
— Felizmente, sim, seu amigo não conseguiu matá-la, mas eu não quero você perto dela. — Retruca Quentin.
Dina interrompe, puxando a porta:
— Para, pai, por favor! — Ela sai e abraça Tommy com força. — Minha vida acabou, Tommy.
Quentin bate a porta, furioso:
— Seu mau gosto matou sua irmã, Dina, eu nunca vou te perdoar por isso!
Mansão Merlyn.
Enquanto isso, Moira estaciona em frente à Mansão Merlyn e diz ao motorista:
— Me espere aqui, preciso falar com Malcolm, Walter.
— Tem certeza de que não quer que eu a acompanhe, senhora Queen? — Pergunta o motorista.
— Não, Walter, obrigada. — Insiste, Moira.
No escritório, Malcolm a recebe. Desesperada, ela o abraça:
— Me diz que Olie está vivo, por favor, me diga que você não falhou!
Sem corresponder ao abraço, Malcolm é direto:
— Vou mandar uma missão de resgate e irei para Nanda Parbat. Fique tranquila!
Manhã seguinte, em uma ilha no Pacífico.
Oliver olha para o céu, seu corpo coberto de hematomas, a pele queimada pela insolação. Solitário, murmura:
— Estou morto?
Com as últimas forças, ele rasteja pela areia escaldante, arrastando-se até uma árvore. Com sede, encara o mar, sabendo que a água salgada não o salvará. Exausto, apaga sob a sombra da árvore.
Ponta Porã, neste exato momento.
Na casa de William, Bebeto brinca no quintal, atirando pedras em objetos aleatórios com entusiasmo infantil. Madm observa e comenta com Amada:
— Ele está muito feliz, não é?
— Sim, parece o mais empolgado de todos nós, talvez porque não sofreu o que sofremos na realidade anterior. — Responde, Amada.
Menslike se aproxima e diz:
— Sempre que o senhor falava dele, eu o imaginava como alguém muito diferente.
— Ele não era tão simpático como é agora, acho que é a felicidade da salvação que nos empolga. — Comenta Madm.
Amada nota tensão em Menslike e pergunta:
— Se é isso, acho que nosso filho não foi salvo. Porque ele me parece muito tenso.
Menslike explica:
— Na verdade, é só curiosidade. A Let fez uma pergunta para mim ontem, que eu não soube responder.
Amada sorri, olha para Madm e ironiza:
— Sei, cuidado com William, ele é sistemático.
— É sério, mãe. — Insiste Menslike. — Ela perguntou a respeito de Lilith, se muitas lendas, mitos e fantasias da nossa realidade são verdades nesta realidade, Lilith pode ser real? Chawa foi mesmo a primeira esposa de Adam?
Madm e Amada se entreolham, perplexos.
Jardim do Éden, 6º dia da semana, uma semana após a criação.
Os shedim se reúnem, preocupados. Helel Ben Sahar, seu líder, lamenta:
— Uma semana já se passou, e ninguém de vocês apresentou uma proposta, nenhum plano ou ideia para que possamos continuar a morar por aqui. Certamente, vamos ser expulsos daqui em breve.
Um shedim começa a flamejar e diz:
— Forçar os habitantes deste lugar a errar é um equívoco, devemos nos tornar amigos deles, quem sabe assim conseguiremos ser remidos e voltaremos à luz do Altíssimo.
— Não se iluda, R’hllor, fomos expulsos do céu, jamais voltaremos ao céu, mas se formos espertos, poderemos viver aqui para sempre. — Replica Helel.
— O senhor está correto, Lord Helel, eu ouvi quando o Altíssimo disse que, se o homem o desobedecer, ele morrerá. Então, só precisamos fazer ele desobedecer ao Criador e, com ele morto, nós reinaremos sobre todas as criaturas deste lugar. — Sugere um ser belo, com olhos azuis e cabelos dourados longos.
— Matá-los pode não ser interessante, Samael, precisamos convencê-los a estar conosco, se tornarem nossos aliados. Precisamos mostrar a eles que se tornar nossos aliados pode ser interessante na guerra contra o Criador. — Diz um ser sem cabelos, de pele negra.
— Sua ideia é interessante, Dark Lord, eu o acompanhei a distância durante toda a semana, o homem passou a semana dando nome a tudo que via, animais, entre outros. — Diz Lilith, a bela shedim, que em seguida conclui. — O coitadinho até está triste porque, por algum motivo, parece que o Criador retirou dele sua companheira.
— É isso! — Exclama outro shedim, de aparência imponente, com chifres curvos, pele avermelhada e olhos flamejantes, reminiscentes.
— Isso, o quê, Asmodeus? — Indaga Helel.
— Vamos convencê-lo a se tornar nosso aliado, dando a ele a única coisa que não possui, uma companheira.
— Mas como vamos achar a versão feminina feita de sua costela e mantida longe daqui? — Pergunta Lilith.
— Não vamos! Vamos dar a ele uma companheira que seja nossa aliada. Que o influencie a se tornar nosso aliado, melhor, nosso servo — Sugere Asmodeus.
— Quem toparia ficar com ele? — Indaga Lilith, enquanto todos a encaram com um olhar cínico, sugerindo que ela é a melhor opção.
MT-386, estrada que liga Ponta Porã a Amambai, manhã de sexta-feira, 29 de março de 1963, no calendário católico.
Let dirige a caminhonete de seu irmão William, uma Ford F-100 1960 azul-escura com detalhes cromados e bancos de couro gastos, quando o Dr. Carlisle Cullen sinaliza para ela parar. Sem surpresa, ela estaciona. Carlisle se aproxima pelo lado esquerdo, e Esme sobe à direita. Let se move para o meio, em silêncio. Esme sinaliza para ela baixar a cabeça e diz:
— Vamos começar, bebê.
Quando Let inclina a cabeça, Esme morde sua nuca, bebendo seu sangue. Após segundos, ela retira os dentes e confessa:
— Ou eles apagaram a memória dela, ou realmente o Miguel não tem nada a ver com a cura da Ângela.
— Não tem, ele nem sabe, eu vou contar para ele agora. — Diz Let.
— E quem são eles? — Pergunta Carlisle.
— São realmente anjos de Deus que vieram trazer bênçãos ao meu irmão. — Responde Let.
— Ela realmente acredita nisso. Vamos ter que usá-la para investigá-los também. — Recomenda Esme.
— Pode ser arriscado. Miguel pode matá-la. — Pondera Carlisle.
— Você sempre diz isso, meu amor. — Pontua Esme, cortando o pulso com os dentes e oferecendo o sangue a Let. Ao beber, a marca na nuca reduz a quatro buraquinhos quase imperceptíveis. Em seguida, Esme olha nos olhos de Let e ordena: — Você vai esquecer qualquer sentimento ou atração por qualquer homem quando estiver com Miguel, seu sonho é ser sua esposa. Quando está com ele, faz tudo para agradá-lo. Mas a partir de agora, você vai corresponder a todas as expectativas de Madm e seus amigos. Se perceber sentimentos deles, vai corresponder, na presença deles, vai fazer tudo que lhes agrada, vai se insinuar para Menslike e para o próprio Madm, vai ser parceira do garotinho Bebeto, se tornar como uma irmã para ele, quanto a Nokram, Healer e Luk, você vai concordar com tudo que dizem, e se perceber que algo os agrada, fará para agradá-los, vai admirar Amada e dizer que ela é sua inspiração e se comportar como se ela realmente fosse. Mas na presença de Miguel, tudo muda e ele é seu tudo, ok?
A pupila de Let se dilata e ela responde:
— Claro.
— Agora, esqueça deste nosso encontro e faça tudo conforme eu disse! — Ordena Esme.
Let acena positivamente. Carlisle estaciona e ambos descem. Let retoma o volante e segue.
Após descerem, Carlisle pergunta:
— Você não acha que está arriscando demais com ela? Antes era só o Miguel, agora esses caras. Não temos ideia de seu poder ou que tipo de mutantes eles são!
— Você diz isso sempre que a gente se encontra. Desde a Inglaterra. — Enfatiza Esme.
Londres, 1960.
Esme se aproxima de Carlisle em uma lanchonete, sentando-se ao seu lado enquanto observam Let tomando um milkshake sozinha.
— Ela é a isca perfeita. Miguel é mulherengo, ela é solitária, sem família, pelo menos sem família aqui na Inglaterra, brasileira. Tudo que ocorrer com ela, ninguém dará falta. — Diz Esme.
— E se Miguel a matar? — Indaga Carlisle.
— Então, ela será transformada. Sempre que a manipularmos, eu dou meu sangue, e quando ele descobrir, se descobrir e a matar, nós teremos mais uma Cullen para cuidar. — Responde Esme.
— Será que o Edward ia gostar dela? — Pergunta Carlisle.
— Talvez, mas aí a Rosalie perderia todas as esperanças. — Pontua Esme.
— Rosalie está com Emmett. Ela o ama. — Enfatiza Carlisle.
— Eu sou mulher, ele não se alimenta dela, sabe o que isso significa? — Indaga Esme.
— Que ele a respeita. — Responde Carlisle.
— E que ela esconde sentimentos dele. — Insiste Esme.
1 Comment
8n7ruu